Negociações são retomadas em Benfica

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Publicado quinta-feira, 28 de outubro de 2004 as 09:25, por: CdB

Foram retomadas na manhã desta quinta-feira as negociações na antiga Casa de Custódia de Benfica (atual Centro de Observação e Reintegração Social), onde 77 PMs presos estão rebelados desde o fim da tarde de quarta, quando foram transferidos de várias unidades de detenção em batalhões para Benfica. O clima era tenso na manhã desta quinta. Os policiais presos se comunicaram com familiares pelas janelas com os rostos cobertos. Eles exibiram um pedaço de pano com um símbolo da PM e jogaram da janela um rolo de papel higiênico com uma mensagem à imprensa contendo críticas a Eraldo Rodrigues, negociador da Secretaria de Segurança Pública. Eraldo e o subsecretário de Direitos Humanos, Paulo Bahia, chegaram às 8h30m na carceragem e conversaram com os presos.

Dois advogados da Associação de Ativos e Inativos da PM chegaram em Benfica, tendo em mãos um ofício do juiz de direito da Auditoria de Justiça Militar de dezembro de 2001, que determina que no tocante à custódia de réus presos condenados em primeira instância e não tendo sido excluídos do quadro da PM, eles deverão permanecer no interior de batalhão da Polícia Militar.

Diante disso, os advogados disseram que entrarão com representação criminal contra as pessoas envolvidas na transferência e que moverão mandato de segurança solicitando transferência dos policiais de volta para seus batalhões de origem.

A causa do motim foi o fim dos privilégios dos PMs, que aguardavam a decisão da Justiça nos quartéis da instituição. Pela primeira vez no Rio, policiais militares acusados de crimes como as chacinas de Vigário Geral e da Candelária se rebelaram porque foram transferidos de unidades como o Batalhão de Choque, que abrigava 50 presos. Neste último, os detentos tinham privilégios como celulares, geladeiras, televisores e fogões.

Inicialmente, os presos foram levados para o antigo Ponto Zero, recém-transformado em carceragem militar. Lá, os presos iniciaram um quebra-quebra, alegando que o local não tinha condições de higiene e infra-estrutura para abrigá-los. Os presos cantaram o Hino da Polícia Militar, chutaram as portas de ferro, destruíram os beliches e exigiram a presença de representantes de entidades de direitos humanos.

A rebelião motivou o fechamento de quatro colégios e uma creche que funcionam nas imediações.

Em seguida, os presos foram levados para o Centro de Observação e Reintegração Social, onde permanecem rebelados. Cerca de cem policiais do Batalhão de Choque, do 22º BPM (Maré), do 16º BPM (Olaria) estão de prontidão do lado de fora da unidade, mas garantem que foram instruídos a não usar armas numa possível invasão.

De acordo com parentes desses presos, advogados de detentos que estiveram mais cedo no interior do presídio contaram que as celas estão sujas de fezes e urina e que os agentes penitenciários não apoiaram a transferência dos presos.

Os detentos gritaram e bateram nas grades, exigindo providências das autoridades. Ainda segundo parentes dos presos, vários policiais que haviam sido transferidos para a unidade já retornaram ao local de origem devido à falta de condições.