Assim que terminou de gravar ‘A Casa das Sete Mulhere’s, Murilo Rosa bradou aos quatro ventos que seu próximo trabalho seria uma trama contemporânea. Mas não demorou uma semana para o telefone tocar. Primeiro, foi o diretor Jayme Monjardim convidando o ator para participar do filme ‘Olga’, que se passa nos anos 30 e 40.
Em seguida, a autora Maria Adelaide Amaral, o chamando para a minissérie ‘Um Só Coração’, que começou nos anos 20 e vai até os anos 50. Mas Murilo não resistiu: disse sim para as duas produções.
– Não podia recusar. Este tipo de trabalho dá prazer e prestígio profissional. É o sonho de qualquer ator! Imagina se iria reclamar de um privilégio desses… – redime-se Murilo, que emenda a nona produção de época.
Por enquanto, os dias de Murilo têm ficado em compasso da espera. Ele aguarda o chamado para começar a gravar na pele do anarquista Frederico Schmidt, na segunda fase de ‘Um Só Coração’. O personagem – vivido na infância pelo ator mirim Thadeu Torres – deve aparecer adulto no dia 20 de fevereiro.
Além da paixão pela política, Frederico se envolve com a judia Lídia, personagem de Helena Ranaldi, que aparece na trama após uma passagem de 10 anos. Até lá, Murilo aproveita para acompanhar a minissérie como assíduo espectador.
– Quando não vejo, coloco para gravar. É uma forma de me integrar à história e ao passado do meu personagem – justifica o ator de 33 anos.
Outro hábito que faz parte desse ‘preparatório’ é a leitura de livros e pesquisas de época. Mas, até agora, foi o próprio texto de Maria Adelaide Amaral que deu a principal ‘pista’ para a composição de Frederico. É que, a exemplo do pai Ernesto, vivido por Celso Frateschi, o personagem é adepto do anarquismo pacífico, pregado pelo filósofo russo Piotr Kropotkin.
– Tem uma cena em que meu personagem está com o livro ‘Anarquismo’, do Kropotkin, nas mãos. Achei que seria importante ler também – comenta o ator, que não largou o livro nem durante a entrevista e já fala com propriedade sobre o assunto.
– O anarquismo é uma grande utopia, mas revela uma grande verdade também. Kropotkin prega que, para mudar o mundo, é preciso mudar as pessoas primeiro… E isso está mexendo muito comigo – empolga-se Murilo – que já cortou o cabelo à moda da época.
Ideologias à parte, será mesmo uma forte paixão que vai mobilizar o coração de Frederico. O personagem de Murilo Rosa terá um romance com a judia alemã Lídia, de Helena Ranaldi. Ela chega ao Brasil fugindo do nazismo, depois de ser informada pelo próprio sogro da morte de seu marido, David. Com a vida refeita em São Paulo, Lídia apaixona-se pelo jovem anarquista.
Mas, inesperadamente, David ressurge. O judeu, encarnado pelo ator Carlos Vereza, reaparece cheio de ressentimentos para exigir seus direitos de marido.
– O destino destes personagens é um grande mistério na trama – antecipa Murilo.
Filho de historiadora, Murilo Rosa se debruça em livros de História toda vez que é chamado para encarnar um tipo de época. Não por acaso, o ator esbanja conhecimento na disciplina. Em 10 anos de carreira, já são nove produções do gênero – cinco novelas, três minisséries e o longa-metragem Olga.
A ‘sina’ começou em Xica da Silva, exibida em 1997 na extinta Manchete, onde também fez Mandacaru. Em 1999, Murilo mudou-se para a Globo, mas se perpetuou em tramas ambientadas no passado. A lista inclui ‘Força de Um Desejo’, ‘O Cravo e a Rosa’,’ A Padroeira’ e as minisséries ‘Chiquinha Gonzaga’ e ‘A Casa das Sete Mulheres’ – além, é claro, de ‘Um Só Coração’.
Mesmo assim, o ator não acredita que tenha ‘cara de época’. Prefere supor que os insistentes convites para tais produções sejam fruto de composições bem-feitas. Ou apenas coincidência.
– Também pode ser um carma… Mas quando voltar a fazer trabalhos contemporâneos sei que todo mundo vai gostar. Afinal, minha satisfação vai ficar estampada no rosto! – deixa esc
Murilo Rosa se prepara para entrar em ‘Um Só Coração’
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Publicado segunda-feira, 2 de fevereiro de 2004 as 04:17, por: CdB