Mundo já se pergunta onde estão os milhões de dólares de Arafat

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Publicado sábado, 13 de novembro de 2004 as 09:36, por: CdB

A morte de Yasser Arafat deve desencadear uma caça mundial ao tesouro, em meio a rumores de que o líder palestino deixou uma fortuna em contas bancárias secretas, dizem especialistas.

Arafat obteve o sexto lugar na lista de 2003 da revista Forbes sobre os “reis, rainhas e déspotas mais ricos do mundo,” com uma fortuna estimada em pelo menos 300 milhões de dólares. Mas o presidente palestino nunca divulgou publicamente detalhes das suas finanças.

Os especialistas dizem que uma investigação sobre as finanças de Arafat, enterrado na sexta-feira em Ramallah, é só uma questão de tempo, mas que a descoberta de qualquer dinheiro oculto — se ele de fato existir — pode se mostrar uma tarefa longa e complicada.

A chanceler suíça, Micheline Calmy-Rey, disse na quinta-feira que desconhece a existência de qualquer dinheiro de Arafat nos bancos do país, os quais, segundo ela, devem ter adotado as rígidas regras que prevêem cautela adicional quando se trata das chamadas “pessoas politicamente expostas”, como era o caso de Arafat.

Nos últimos anos, a Autoridade Palestina recebeu centenas de milhões de dólares dos Estados Unidos, da Europa e de países árabes para poder expandir a sua precária economia.

Aqueles que acham que Arafat — famoso por seu estilo de vida modesto — pode ter desviado recursos para contas secretas temem que agora o dinheiro desapareça.

As autoridades francesas iniciaram neste ano uma investigação preliminar sobre a transferência de 11,5 milhões de dólares de um banco suíço para uma conta francesa controlada pela mulher de Arafat, Suha, que vive entre Paris e Túnis. Ela negou qualquer irregularidade.

Além disso, um assessor financeiro do presidente palestino disse que ele não tinha quase nada em seu nome e que os relatos de que houve desvio de verbas são equivocados. “Se esse dinheiro existe, que os israelenses e norte-americanos o encontrem”, disse Mohammed Rashid. “É impossível hoje em dia esconder esse tipo de valor em qualquer lugar do mundo”.

– Esta é uma situação heterodoxa – disse Daniel Karson, gerente-executivo da consultoria de riscos Kroll, empresa especializada em crimes do colarinho branco e que já localizou o dinheiro desviado por governantes do Iraque, Haiti e das Filipinas.

O caso de Arafat é complexo em parte porque a Autoridade Palestina é uma entidade relativamente nova, que não tem transparência.

– Pode-se ter a impressão de que tudo isso saiu de uma maleta – disse Karson, por telefone, de Nova York.

Um advogado suíço especializado em crimes financeiros disse, sob anonimato, que a Autoridade Palestina era vulnerável à corrupção desde seu início e que, se houve dinheiro desaparecido, ele provavelmente nunca será recuperado.

– Quando você tem uma distribuição centralizada de dinheiro, isso tende a facilitar o crime, e como a situação entre Israel e a Autoridade Palestina era tão caótica, não há a possibilidade de absolutamente nenhum tipo de controle – afirmou.

Mas Karson considera que quase sempre há como localizar o dinheiro, mesmo sem a total cooperação das autoridades. “A não ser que em algum lugar isso tenha se transformado em dinheiro vivo, sempre sobra uma trilha de papéis”.