Mundo islâmico aumenta o tom dos protestos contra o Vaticano

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Publicado segunda-feira, 18 de setembro de 2006 as 12:16, por: CdB

O Vaticano orientou seus representantes em países muçulmanos, nesta segunda-feira, a explicar as palavras do papa Bento XVI sobre o Islã, mas especialistas afirmaram que o furor já representa um retrocesso de décadas nas relações entre as duas religiões. O novo secretário de Estado de Bento XVI, que assumiu o cargo na sexta-feira, em meio aos protestos muçulmanos, disse que os núncios da Santa Sé vão visitar líderes religiosos e do governo de países do Islã.

O cardeal Tarcisio Bertone disse que os núncios vão ressaltar trechos do discurso polêmico, proferido na semana passada na Universidade de Regensburg, na Alemanha, que o Vaticano acredita estarem sendo “negligenciados”. Segundo o Corriere della Sera, Bertone disse que houve uma “forte manipulação do texto, que o transformou em algo diferente do que pretendia o Santo Padre”.

No domingo, o papa disse que lamentava profundamente que os muçulmanos tivessem se ofendido pelo fato de ele ter citado um texto medieval que criticava o uso da violência pelo Islã, mas o pedido de desculpas não conseguiu aplacar a indignação de alguns grupos islâmicos. Na palestra, o papa falou das críticas ao profeta Maomé feitas pelo imperador bizantino do século 14 Manuel II Paleólogo. O imperador disse que o profeta Maomé só trouxe o mal, “como sua ordem para disseminar pela espada a fé que pregava”.

No domingo, o papa disse que a citação não representava sua opinião pessoal. Mesmo assim, a mera citação já foi vista pelos muçulmanos como profundamente ofensiva, e especialistas advertiram para a possibilidade de um rompimento nas relações com o Islã. Gian Enrico Rusconi, professor da Universidade de Turim, escreveu no jornal La Stampa que as consequências do discurso “indicam um rompimento irreversível, não apenas nas relações entre o Islã e a Igreja Católica, mas também para a imagem do papa no Ocidente”.

Marco Politi, especialista em Vaticano do jornal La Repubblica, de Roma, disse que o papa causou um retrocesso de 25 anos nos esforços feitos por seu antecessor, João Paulo 2o., para se aproximar do Islã.

Para Politi, João Paulo II, embora deixasse claro que era errado usar o nome de Deus para justificar a violência, “era respeitado e ouvido pelo mundo muçulmano como um líder espiritual”.

“Tragicamente, tudo isso foi rompido pelo discurso de Regensburg, e resta saber se o papa e seu secretário de Estado vão conseguir sair dessa”, escreveu Politi.

João Paulo II, que morreu em 2005, foi o primeiro papa a visitar uma mesquita. Ele foi a vários países de maioria muçulmana e recebeu uma série de líderes políticos e religiosos islâmicos durante seus 27 anos de papado.

Em fevereiro, Bento XVI “decapitou” o departamento do Vaticano para o diálogo com o Islã, removendo seu presidente e fundindo-o ao Ministério da Cultura do Vaticano. O titular do departamento, o arcebispo Michael Fitzgerald, foi enviado para o Cairo, no que foi encarado como um rebaixamento. Muitos chamaram a saída de Fitzgerald do Vaticano de “exílio” e manifestaram a preocupação com o fato de a Santa Sé não possuir mais um especialista sobre o Islã para assessorar o papa em questões muçulmanas.

Grave protesto

Líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei disse, nesta na segunda-feira, que as declarações do papa Bento XVI sobre o Islã estão alinhadas com o que chamou de a “cruzada” dos Estados Unidos contra a religião. A primeira grande crise enfrentada pelo papa desde que foi eleito, há um ano e cinco meses, foi deflagrada por um discurso que ele deu na terça-feira na Alemanha, no qual fez citações de críticas ao profeta Maomé feitas por um pensador medieval.

– As declarações do papa são o mais recente elo da cruzada contra o Islã lançada por Bush. O Grande Satã (os EUA) está tendo influência nessa questão – disse Khamenei num discurso pela TV, referindo-se ao presidente dos EUA, George W. Bush.

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