A pílula anticoncepcional para homens ainda demorará alguns anos para chegar às farmácias, mas ainda que algumas mulheres a vejam com bons olhos, outras a consideram uma ameaça.
– Os homens que estão em uma relação estável e querem ter certa responsabilidade no planejamento familiar são os mais interessados no anticoncepcional – disse à Robert Spirtas, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês).
O NIH ajuda a financiar um estudo da Universidade do Kansas para testar um composto químico que inibe o amadurecimento dos espermatozóides.
Os laboratórios farmacêuticos AG Schering e Organon, segundo explicou Spirtas, testam a administração, por um lado, de hormônios que inibem a produção de esperma e, por outro, de doses de testosterona para preservar a potência masculina.
Embora ainda faltem muitos anos para que a “pílula” esteja disponível para os homens, o colunista Glenn Sacks, que em seu programa de rádio na Califórnia apresenta um “ponto de vista masculino”, acha que nem todas as mulheres ficarão satisfeitas com o recurso.
– A mulher casada acha bom que seu marido tome a pílula, porque dessa forma o homem compartilha a responsabilidade de evitar gestações não desejadas – disse Sacks. “Mas outras mulheres podem vê-la como uma ameaça a seu poder”.
É preciso lembrar que, segundo as pesquisadoras Joyce Abma, do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde, e Linda Piccinino, da Universidade Conrell, a cada ano nos EUA um milhão de bebês nascem de gestações que os homens não desejavam ou buscavam.
Com estes dados, o raciocínio de Sacks parte do princípio de que “a despesa com menores de idade subiu enormemente desde 1987, e a aplicação das leis que obrigam os pais a bancar essas despesas se tornou muito mais eficaz nos últimos 20 anos”.
– Os homens são os que têm muito a perder em função de uma gravidez não desejada – acrescentou.
– As mulheres têm opções: a ‘pílula do dia seguinte’, o aborto, a entrega para a adoção. Há estados (americanos) em que a lei permite que uma mulher volte ao hospital e entregue o menino se não o quiser, sem perguntas.
Mas “o homem que confia na mulher que diz que toma a pílula pode ficar sujeito a responsabilidades durante 18 anos”, acrescentou.
– Em alguns estados, o sustento dos filhos é obrigatório até os 21 anos.
Sacks e Spirtas reconheceram que a pílula masculina, se fosse segura e eficaz, também daria uma garantia aos homens que querem evitar compromissos.
A aparição da pílula anticoncepcional para mulheres na década de 1960 teve conseqüências sociais muito grandes.
– O debate sobre o impacto da pílula anticoncepcional para homens acaba de começar – disse Joseph Tash, um dos pesquisadores da Universidade do Kansas que fará estudos financiados pelo NIH.
A pesquisa partiu da observação de que diminuía o amadurecimento dos espermatozóides daqueles pacientes com câncer que tomavam o medicamento “lonidamina”.
Tash, junto com a diretora do projeto, Gunda Georg, e os pesquisadores Zi-Zhuang Ye e Ernst Schonbrunn, fará testes com um composto da família do “lonidamina”, o “gamendazole”, que em testes com roedores causou infertilidade total.
– Cerca de três semanas após uma única dose de gamendazole, observa-se a infertilidade total, que dura cerca de três semanas – disse Tash.
– Depois, a fertilidade retorna gradualmente.
O chefe da divisão de Biologia Reprodutiva na Universidade John Hopkins, Barry Zirkin, disse à que “nos casais estáveis, são muitos os homens que acham que as mulheres carregaram durante muito tempo o planejamento familiar”.
– Se no casal cada um confia plenamente no outro, o anticoncepcional masculino é positivo – acrescentou.