O Estado Islâmico impôs uma versão radical do islã em Mossul depois de estabelecer a segunda maior cidade do país como sua capital de fato
Por Redação, com Reuters – de Mossul:
Quando militantes do Estado Islâmico invadiram a cidade iraquiana de Mossul em 2014, entraram no salão de bilhar de Manaf Younes e o declararam anti-islâmico, levando suas bolas de bilhar com um alerta.
![Agora as forças do governo do Iraque expulsaram os militantes do leste de Mossul e se preparam para atacar o oeste](http://www.correiodobrasil.com.br/wp-content/uploads/2017/01/mossul-4.jpg)
Um salão que muitas vezes ficava cheio de jogadores até meia-noite ficou subitamente abandonado. Fotos de prêmios que davam orgulho a Younes acumularam pó durante dois anos, e as mesas ficaram cobertas.
Agora as forças do governo do Iraque expulsaram os militantes do leste de Mossul e se preparam para atacar o oeste. Embora Younes esteja exultante. Como muitos outros comerciantes locais, sua alegria é atenuada pela incerteza enquanto ele tenta ressuscitar sua vida anterior.
O Estado Islâmico impôs uma versão radical do islã em Mossul. Depois de estabelecer a segunda maior cidade do país como sua capital de fato. Proibindo cigarros, televisões e rádios e forçando os homens a deixar a barba crescer e as mulheres a se cobrirem da cabeça aos pés.
– Estou quebrado. Tive que vender meus dois carros para sobreviver. Agora meu locador está exigindo dois anos de aluguel atrasado – contou Younes, pegando um troféu que o lembra dos velhos tempos.
Ele franziu o cenho ao som de explosões ao longe, onde forças iraquianas e jihadistas trocam disparos ao longo do rio Tigre. Que divide a ampla metrópole, outrora um polo comercial e um centro de estudos avançados.
– Estas explosões prejudicam o negócio. Elas sacodem as mesas de bilhar e as deixam desniveladas.
Combates
Os combates já causaram ampla destruição. Os ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos demoliram dezenas de edifícios. Deixaram crateras destruindo estradas. Tetos desabaram até o térreo. Outros prédios têm buracos imensos feitos por foguetes ou tiros de metralhadora.
Os morteiros ainda atingem a cidade e os disparos se fazem ouvir.
Diante do salão de bilhar de Younes está o que restou da Universidade de Mossul, uma das melhores instituições de ensino do Oriente Médio.
O Estado Islâmico vendeu os manuscritos antigos da universidade e impôs sua própria forma de educação, proibindo livros de filosofia. Quando o Exército chegou, os jihadistas incendiaram muitos de seus prédios, deixando pilhas de cinzas.
Um dono de restaurante, Qusay Ahmed, disse ter sido preso pelo Estado Islâmico e torturado durante quatro meses sob a acusação de ter roubado.
– Eles arrancaram minhas unhas com alicates – contou.
Os torturadores podem ter ido embora, mas agora existem novos desafios. Ele e outros colegas de profissão não têm água potável e a eletricidade é escassa, além de poucos clientes.