Militarização no combate ao narcotráfico no Rio é questionada

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Publicado terça-feira, 11 de maio de 2004 as 15:03, por: CdB

O governo federal vai definir ainda esta semana quando será o início das ações conjuntas entre o Exército e a Polícia Federal para combater o tráfico nas favelas do Rio de Janeiro. A decisão, no entanto, vem gerando polêmica entre algumas entidades da sociedade civil.

Para o coordenador do Centro de Articulação das Populações Marginalizadas (Ceap), com sede na capital carioca, Ivanir dos Santos, a militarização das favelas não é a melhor forma para resolver o grande problema do tráfico de drogas. A iniciativa, afirma, termina comprovando o seguinte: a debilidade da Polícia do Rio de Janeiro.

“A militarização não vai resolver o problema do tráfico. Qualquer um pode ver que isso vai ser apenas um paliativo usado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado para passar uma idéia de tranqüilidade. Mas, no futuro, ninguém pode saber o que vai acontecer com esse tipo de ação, como é que a comunidade pode ser atingida com isso”, ressalta.

O problema, de acordo com o coordenador, deveria ser resolvido na base da questão, ou seja, seria necessário rever o sistema de segurança do estado e investir mais em ações sociais dentro das comunidades.

Santos discorda ainda do fato das atividades serem só direcionadas para as favelas, pois, afirma, sabe-se que é preciso combater o tráfico em todos os seus pontos e não somente naqueles que são mais visíveis para a mídia.

“Os morros não produzem cocaína, os morros não produzem maconha, também não produzem armas. O que pode acontecer com essa operação é cair a venda de varejo. Mas o resto vai continuar. É preciso uma investigação muito profunda para saber quem financia esse negócio, quem é que está abastecendo, quem é que fica com o lucro”, disse.

Carlos Costa, coordenador de Segurança Pública e Direitos Humanos do Viva Rio afirma que a organização continua acreditando que a melhor atuação das Forças Armadas está em proteger as fronteiras do país. Mas acrescentou que torce para que a solução encontrada pelos governos estadual e federal tenha sido realmente a acertada.

“Nós não somos uma organização que simplesmente se posiciona contra nenhuma atitude. O que nós queremos é que a situação melhore e torcemos para que a inclusão das Forças Armadas nesse assunto não termine em conseqüências negativas para ninguém”, afirma Costa.

Ele diz ainda que o fato do próprio Exército ter afirmado que não subirá os morros das favelas juntamente como as tropas da Polícia Federal já é considerado um alívio, sempre ressaltando que o Exército não pode perder de vista a sua função maior que é a de defender as fronteiras brasileiras.

A ação

As tropas que servirão de apoio para a Polícia Federal agir com mais intensidade nas favelas do Rio de Janeiro fazem parte de um esquadrão de elite do Exército brasileiro. Há semanas, os homens vêm recebendo um treinamento especial voltado para o trabalho que, segundo noticiado pela imprensa brasileira, deverá começar na semana que vem e está apenas aguardando uma assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Hoje, equipes do Ministério da Defesa e do Ministério da Justiça iriam se reunir com o governo do Rio de Janeiro para traçar o plano conjunto da ação. O pedido da ajuda das Forças Armadas Brasileiras foi feito pelo governo do Rio de Janeiro. Embora no início, o Ministério da Justiça tenha descartado a possibilidade, houve um acordo entre as partes e o exército não deverá subir aos morros. A atividade será apenas de apoio e o Exército não terá força de polícia, ou seja, não estará apto a executar prisões.

A ação vai se concentrar nas favelas da Rocinha e Vidigal. Em todo o Estado do Rio de Janeiro existem, aproximadamente, 300 mil favelas. Na capital carioca, segundo dados do Conselho Nacional de Gestores Comunitários, são quase 2 milhões de pessoas que vivem nessas comunidades.