Marinho lança suspeitas em depoimento

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Publicado quarta-feira, 22 de junho de 2005 as 21:22, por: CdB

O funcionário dos Correios Maurício Marinho lançou suspeitas na CPI nesta quarta-feira sobre contratos e relações comerciais da estatal com fornecedores, além de vincular esses indícios à prática de loteamento de cargos por partidos políticos aliados ao governo.

– Não está claro, precisa ser investigado –  disse Marinho a parlamentares da CPI dos Correios, criada a partir da divulgação de um vídeo em que o funcionário, que era chefe do departamento de Contratação de Material, aparece recebendo 3 mil reais de supostos empresários que pretendiam negociar com o órgão. No vídeo, ele diz atuar sob o comando de Roberto Jefferson, hoje presidente licenciado do PTB.

Marinho não forneceu detalhes das supostas irregularidades que apontou durante o depoimento de nove horas. Ele já havia prestado, por quase cinco horas e meia, esclarecimentos na noite de terça-feira, quando a sessão da CPI acabou suspensa e retomada nesta manhã.

Marinho apresentou 23 itens, colocando-os sob suspeita, nos quais aponta contratos e negociações comerciais com empresas prestadoras de serviço para a estatal. Segundo o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), ele não tratou somente de 23 contratos, mas da relação de grandes empresas que mantêm mais de um negócio com os Correios.

Entre as várias companhias citadas, Marinho sugeriu a investigação de contratos firmados entre os Correios e o Bradesco . O banco tem associação com os Correios, por exemplo, para oferecer serviços bancário e postal.

Além disso, sugeriu a investigação de outras empresas ligadas ao banco, como a Scopus, que, segundo ele, “ganhou recentemente a manutenção de equipamentos de informática dos Correios em praticamente todo o país”.

De todos os contratos relacionados por Marinho, a maioria está subordinada à diretoria de Tecnologia, que seria comandada por um indicado do PT. Outros estariam vinculados à própria presidência da estatal, ligada ao PMDB, entre eles o serviço de propaganda e publicidade fornecido pela agência SMP&B, de Marcos Valério, apontado como um dos operadores da suposta compra de votos pelo PT no Congresso, denunciada por Jefferson após o escândalo dos Correios.

Sobre o contrato da SMP&B, Marinho disse que ele está vinculado à Secretaria de Comunicação do Governo, do ministro Luiz Gushiken. Ele citou, ainda, serviços prestados pela Novadata, do empresário Mauro Dutra, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

– Isso muda completamente o rumo das investigações – disse o deputado Gustavo Fruet (PMDB-PR).

Perguntado pelo deputado governista Mauricio Rands (PT-PE) se as licitações eram recentes, Marinho admitiu que a maioria foi feita antes do atual governo.

Ele apontou o secretário-geral do PT, Silvio Pereira, como autor de indicações para diretorias e chefias da estatal e sustentou que ele mantinha contato direto com a diretoria de tecnologia.

– Pela voz corrente, o PT não queria perder a diretoria de Tecnologia –  disse Marinho. Segundo ele, esse cargo estava prometido para Ezequiel Ferreira, indicado do PTB, mas a vaga também era disputada pelo PMDB, que desejava colocar Robinson Koury, suplente do senador peemedebista Ney Suassuna (PMDB-PB).

Sobre o recebimento de 3 mil reais, o funcionário reafirmou que era adiantamento por um serviço de consultoria e, depois de considerar normal o recebimento, afirmou que foi “um ato impensado”.

Membros da CPI observaram que Marinho construiu sua defesa focando os indícios de irregularidades nos contratos vinculados à diretoria de tecnologia.

Ele afirmou ter sido indicado para o cargo de chefia pelo PTB, mas afirmou que não tem acordo financeiro com o partido. Admitiu, porém, ter tido contato com Marcos Vinícius, genro de Jefferson, a quem atendeu pedidos para receber empresários interessados em licitações da estatal.

Para rebater as insinuações contra o PT, coube ao deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), procurador experiente, desmontar as argumentações do interrogado.