Manifestação de direita se dilui em protestos contra Temer e Renan

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Publicado domingo, 4 de dezembro de 2016 as 14:10, por: CdB

Em outra faixa, e sob gritos histéricos de alguns manifestantes, diante das câmeras da Globo — único canal da TV aberta a cobrir os protestos — lia-se: Fora Renan

 

Por Redação – de Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo

 

Apesar de todos os esforços das Organizações Globo, que dedicaram espaço generoso nos veículos de comunicação do grupo, foi reduzido o número de pessoas que atenderam à convocação de setores organizados da direita para ocupar, neste domingo, algumas ruas de cidades brasileiras. Com críticas difusas aos parlamentares que alteraram a proposta popular de lei contra a corrupção, os manifestantes perderam o foco. “Lava Jato, eu apoio”, dizia uma das faixas exibidas em Copacabana, Zona Sul do Rio.

Debaixo de chuva, coisa rara em Brasília, alguns poucos manifestantes jogaram desenhos de ratos no espelho d'água em frente ao Congresso
Debaixo de chuva, coisa rara em Brasília, alguns manifestantes jogaram desenhos de ratos no espelho d’água em frente ao Congresso

Mas aquela mensagem era francamente contraditória ao que disse o líder do Governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), em gravação apreendida pela Polícia Federal (PF). O objetivo do governo Temer, segundo o peemedebista, é justamente “estancar a sangria” da Lava Jato. Jucá também lidera a bancada que alterou o projeto proposto por Sérgio Moro e seus comandados. A mesma bancada que recebe o apoio dos manifestantes deste domingo.

Em outra faixa, e sob gritos histéricos de alguns populares, diante das câmeras da Globo — único canal da TV aberta a cobrir, ao vivo, os protestos — lia-se: Fora Renan. Trata-se, no entanto, do mesmo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) que consolidou o golpe de Estado, ao promover a cassação de uma presidenta eleita. Dilma Rousseff (PT) recebeu 54 milhões de votos.

Estado de exceção

Aplaudido no momento em que cassou Dilma Rousseff, o terceiro homem na linha sucessória da República sofreu seu revés. É alvo central daqueles que, segundo o senador alagoano, redirecionam o golpe de Estado, em curso, no rumo do fascismo.

Questionado sobre as mudanças feitas pelos deputados no projeto encaminhado pela força-tarefa da Lava Jato, Renan foi direto. Disse que a proposta não poderia ter recebido tratamento diferente.

— No Estado de exceção, você pode propor teste de integridade, fim de habeas corpus, validação de prova ilegal, validar o testemunho sob tortura. Mas, no Estado democrático, não. Então esse pacote estava fadado a receber o tratamento que recebeu da Câmara — disparou Renan. Ele conversou com jornalistas, logo após o Senado levar a proposta anticorrupção para análise na Comissão de Constituição e Justiça.

Discurso vazio

Por mais alienados pelas mensagens incutidas no dia a dia, em um bombardeio midiático sem precedentes, as pessoas que vestiram a camisa da seleção brasileira de futebol se perguntavam sobre as surpresas que ainda estão por acontecer. As delações da Odebrecht e demais empreiteiras citam nomes como o do presidente de facto, Michel Temer, de integrantes de sua equipe, a exemplo dos senadores José Serra (PSDB-SP) e Jucá.

Nem era necessário o reforço na segurança da orla, no Rio de Janeiro e Recife. Nem Belo Horizonte, Brasília e São Paulo. O nível de exacerbação dos manifestantes era próximo de zero. Embora o protesto tenha sido convocado em defesa da Operação Lava Jato e contra o pacote de medidas anticorrupção, a apatia estava traduzida no esforço do apresentador. Sem sucesso no quesito animação, o locutor contratado gritava refrões aparentemente díspares. Ia de “Somos todos Moro!” até “Abaixo a corrupção!”, mas o retorno era mínimo. Às 13h30, no Rio, via-se apenas uns poucos, gritando palavras de ordens favoráveis às candidaturas neonazistas. A maioria já havia deixado o local.

Ratos

No Distrito Federal, segundo a Polícia Militar (PM) havia na Esplanada dos Ministérios, até perto do meio-dia, entre 4 e 5 mil pessoas. O encerramento ocorreu logo em seguida, às 13h. Dizem os organizadores que as passeatas ocorreram também em cerca de 200 cidades, em horários diferentes. Entre os movimentos que convocaram os protestos, estão o Vem pra Rua e o Avança Brasil, patrocinados com recursos de instituições norte-americanas e de setores da extrema direita, no Brasil.

Ao contrário da semana passada, quando a PM espancou estudantes e atirou bombas de efeito moral e gás de pimenta sobre o público que protestava contra a PEC 55, conhecida como ‘PEC da Morte’, neste domingo as manifestações foram permitidas próximo ao espelho d’água do Congresso. Sob o olhar complacente dos policiais presentes, espalharam desenhos de ratos, simbolizando, segundo eles, os políticos.