Cientista confirma OMS: malária controlada em 2030

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado sexta-feira, 25 de novembro de 2016 as 14:21, por: CdB

A notícia mais encorajante é a comercialização e o início da utilização da primeira vacina em janeiro de 2017. Trata-se da vacina chamada Mosquirix, com o nome científico de RTS, S/AS01, da GlaxoSmithKline, já aprovada, há cerca de um ano, pela Agência Européia de Medicamentos.

Por Rui Martins, de Genebra:

A maior incidência da malária é na África e Ásia
A maior incidência da malária é na África e Ásia

O cientista suíço Marcel Tanner, especialista no combate à malária, diretor do Instituto Tropical de Saúde Pública da Basiléia, confirmou a previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que até 2030, será possível se controlar o paludismo a 90 %, seja pela utilização da primeira vacina, novos medicamentos ou novas tecnologias.

A notícia mais encorajante é a comercialização e o início da utilização da primeira vacina em janeiro de 2017. Trata-se da vacina chamada Mosquirix, com o nome científico de RTS, S/AS01, da GlaxoSmithKline, já aprovada, há cerca de um ano, pela Agência Européia de Medicamentos. Embora com uma eficácia relativa de 30 % na imunização de bebês de seis semanas a 17 meses contra o parasita Plasmodium falciparum, essa primeira vacina é o coroamento de mais de vinte anos de pesquisas envolvendo diversos pesquisadores.

« As pesquisas atuais são também relacionadas com a estocagem da vacina e se a duração de sua eficácia é de um ou dois anos, quando submetida a temperaturas elevadas como as dos países africanos em lugares sem refrigeração. Embora de eficácia limitada, a primeira vacina vai abrir a porta para as vacinas de segunda geração. É o caso de um laboratório suíço, Mymetics, que trabalha no desenvolvimento de outro tipo de vacina, capaz de ampliar o combate à malária» », disse Marcel Tanner.

« Diante dessa relativa eficácia da vacina é preciso se continuar a sensibilizar as populações a utilizarem as redes mosquiteiras, e não se deixar desestimular mesmo com as informações de algumas redes serem utilizadas na pesca, pois isso não chega a 5 % do total distribuído », acentua o professor.

Política de saúde

Para o professor e cientista, a solução dos problemas de saúde dos países africanos depende muito de seus políticos e da formação e entusiasmo de seus quadros. Ele não esconde seu entusiasmo pela política de saúde do presidente tanzaniano John Magufuli, porque no combate à malária todos os países estão interligados e se interdependem

Com sua experiência e vivência africana, Marcel Tanner cita como exemplo de engajamento na luta contra a malária o moçambicano Pascoal Mocumbi, quando primeiro-ministro e depois ministro da Saúde, quando começou seriamente o tratamento e a distribuiçao de redes mosquiteiras em Moçambique.

Fazendo um paralelo com Angola, o cientista ressalta não haver e não ter havido em Angola o mesmo entusiasmo e formação entre seus quadros, que o registrado em Moçambique, que « apesar de ter vivido também guerras e ter registrado um dos mais elevados índices de malária, é hoje um dos países rumo à eliminação da doença, agora com o apoio da Fundação Melinda e Bill Gates e com a colaboração da África do Sul. Entretanto, Angola também sofre do fato de fazer fronteira com a Republica Democrática do Congo, país com um dos mais altos índices de endemicidade de paludismo. Outro país lusófono, que deve merecer atenção, é a Guiné Bissau, vítima da pobreza e instabilidade política », destaca o professor Tanner.

Resistência

Ao mesmo tempo em que avançam as pesquisas, destaca o cientista, os mosquitos e os parasitas desenvolvem sua resistência aos inseticidas e medicamentos. A tal ponto de haver uma resistência quase total aos remédios na região do Mekong, na Ásia. Isso não ocorre na África, mas uma estratégia para se evitar a resistência é a de se alternar o tipo do inseticida lançado nas redes mosquiteiras, impedindo ao mosquito se adaptar.

Em termos de remédios para tratamento da malária, a substituição também se torna obrigatória para evitar resistência. O mais usado atualmente é o Coartem, à base de artemisinina, fabricado pela Novartis na Turquia e utilizado por mais de 750 milhões de pessoas.

Logo será suplantado por um novo produto, recentemente homologado pela Organização Mundial da Saúde, o Pyramax, indicado para o uso nas crianças. Fabricado na Coréia do Sul, já começa a ser usado em três países asiáticos, onde os antigos produtos não produzem mais efeito dada a resistência do parasita, e cinco países africanos.

« Para se combater a resistência do parasita, será necessário se criar um novo medicamento a cada cinco anos », diz o professor Marcel Tanner.

Eliminação

« Não se pode falar numa erradicação da malária do planeta, mas se pode agir por sua eliminação, ou seja, impedir-se sua transmissão ao nível local , diz Tanner. Tudo, na verdade, é uma questão de contrôle e de método. Esses mosquitos chegam a entrar na Europa e com o aquecimento climático isso ocorrerá com maior frequencia, porém os europeus dispõem de contrôles mais eficientes que os africanos. O mosquito fêmea Anófeles ataca só de noite, quando as redes mosquiteiras são o abrigo certo. A proteção contra eles é mais fácil que contra o Aedes Aegypti, transmissor do dengue e zika, cujas picadas ocorrem durante o dia, sem haver proteção possível a não ser o repelente. »

Embora a malária esteja recuando, morrem 438 mil e são infectadas 214 milhões de pessoas por ano, das quais 90 % na África e 70 % crianças com menos de cinco anos. O mapa africano da malária era, há vinte anos, todo vermelho de leste a oeste, mas atualmente surgem manchas claras e se revelam os focos a serem combatidos.

Rui Martins é correspondente do Correio do Brasil em Genebra.