Lula, no Senegal, perde perdão pela escravatura

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Publicado quinta-feira, 14 de abril de 2005 as 11:38, por: CdB

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu “perdão pelo que fizemos aos negros” durante sua visita à Ilha de Gorée, na costa do Senegal,  de onde escravos africanos eram transportados para as Américas.”Vi fotografias de muitas personalidades que vieram aqui, mas apenas uma, que morreu e foi enterrada na sexta-feira (papa João Paulo 2º), teve a humildade de pedir perdão”, disse.

Lula disse que a passagem pela Ilha de Gorée foi o que mais o impressionou na viagem de cinco dias à África, que termina hoje no Senegal.

“Eu queria dizer ao presidente ao povo africano, em especial  ao do Senegal e ao presidente Abdulaye Wade, que não tenho nenhuma responsabilidade pelo que aconteceu nos séculos 16, 17 e 18, mas que é uma boa política pedir perdão pelo que fizemos aos negros.”

‘Povo maravilhoso’

O presidente disse que a Europa precisou dos escravos que tirou da África para se tornar um continente rico.”O fato de a África ser um continente economicamente e industrialmente atrasado não é porque os africanos não têm competência ou inteligência. É porque por três ou mais séculos se tiraram daqui as pessoas mais saudáveis”, disse.

“Mas essas pessoas e seu sofrimento ajudaram a construir o meu país. Se não fosse a miscigenação, não teríamos o povo maravilhoso que é o brasileiro.” Lula disse esperar que, “em 40 ou 50 anos, não estejamos aqui apenas lembrando essa tristeza, mas também comemorando o sucesso de nossos países”.

Emoção

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, que também participou da visita, cantou sem instrumentos a música L’Ile de Gorée, que ele compôs com Capinam e que está em seu disco Parabolicamará. A letra em francês diz que a pele dos negros é uma bandeira que representa o sofrimento, mas que é a mesma pele que cobre todas as pessoas do mundo.

O presidente Wade ficou emocionado ao ouvir a música de Gil e abraçou o cantor quando ele terminou de cantar. O presidente Lula se encontra com representantes da comunidade brasileira no Senegal e assina atos com o governo do país antes de voltar para o Brasil ainda nesta quinta-feira.