Lixo atômico não é bicho papão

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016 as 15:00, por: CdB

Colunista defende a criação de centrais nucleares e refuta as argumentos dos que levantam os problemas decorrentes da estocagem do lixo atômico.

Por José Inácio Werneck, de Bristol, EUA:

Colunista defende as centrais nucleares e acha não haver grandes problemas com o lixo atômico
Colunista defende as centrais nucleares e acha não haver grandes problemas com o lixo atômico

Em minha última coluna defendi a necessidade de finalizar a construção de Angra-3 e alguns amigos ponderaram, com certa razão, que o problema da energia nuclear não está nela em si, mas em sua consequência: o lixo atômico.

O medo é por causa da radioatividade, mas, antes de mais nada, é bom lembrar que carvão, petróleo e gás também produzem materiais radioativos, embora em grau muito inferior.

É certo, portanto, que alguma coisa deva ser feita em relação às “sobras” das usinas nucleares. Algumas dessas sobras  permanecem radioativas, em maior ou menos grau, por milhares e até milhões de anos.

Mas o problema, há muito tempo se sabe, não é técnico e sim político.

Nos Estados Unidos, por exemplo, desde 2002 foi aprovada a construção, pelo Congresso, do repositório de Yucca Mountain, no  Estado de Nevada. É uma gigantesca escavação, com grande profundidade, em rocha maciça, que torna impossível o escape de radioatividade.

Mas, por problemas meramente políticos o governo de Barack Obama suspendeu o fluxo financeiro para terminar a obra. Isto aconteceu por causa da pressão de dois políticos influentes: o  ex-candidato republicano (e atual Senador pelo Arizona) à presidência dos Estados Unidos, John McCain, e o ainda Senador por Nevada (e antigo líder majoritário na casa), Harry Reid.

Curiosamente, o condado em que se encontra Yucca Mountain é favorável ao projeto, pois teria um ganho econômico, mas a maioria da população, tanto em Nevada quanto no resto do país, é contra.

Tudo porque, para aqueles que  não querem decidir apenas em termos técnicos, o “lixo atômico” é, em praticamente todos os países, um meio fácil de angariar votos.

A exceção talvez esteja na Finlândia, que no momento constrói o Onkalo Spent Nuclear Fuel Reposittory, no município de Eurajoki, na costa oeste. Serão cavernas ligadas por túneis, a uma grande profundidade, e nela o “lixo atômico” será depositado em contêineres de cobre.

Espera-se que o local esteja pronto para inauguração em 2020.

Até lá os países continuarão a recorrer a soluções a curto prazo – que, evidentemente, não são satisfatórias.

Nos Estados Unidos, no momento, o lixo atômico vem, em sua maioria, sendo depositado na chamada “Morris Operation”, no estado de Illinois, de propriedade do conglomerado multinacional Hitachi.  Existe ainda um repositório provisório no Novo México, a 660 metros de profundidade.

Mas há também uma recomendação de uma Comissão de Alto Nível do governo americano (Blue Ribbon Comission) de que, no futuro, recursos financeiros do Nuclear Waste Fund possam ser diretamente encaminhados a projetos como o de Yucca Mountain, sem passarem pelo Departamento de Energia.

Com isto, se contornaria o grande obstáculo, que é a exploração do aspecto emocional, para fins políticos.

Nenhum país se iluda, porém, aí incluído o Brasil: a energia atômica é imprescindível.

José Inácio Werneckjornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.

Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.