Líder indígena aponta efeitos das mudanças climáticas

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Publicado sábado, 5 de dezembro de 2015 as 13:01, por: CdB

Em Paris, cidade-sede da conferência climática da ONU, Txane Bane Huni Kuin, indígena do povo kaxinawá, discursou sobre a contaminação da água que afeta o seu povo

Por Marie Sigrist – de Paris:
Uma semana antes da abertura da COP21 (21ª Conferência das Partes da Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança de Clima), cerca de 60 líderes indígenas e pesquisadores do mundo todo se reuniram na sede da UNESCO, em Paris, para a conferência mundial Resiliência em tempos de incerteza: os povos indígenas e as mudanças climáticas. No encontro, representantes de vários povos autóctones denunciaram os problemas que têm enfrentado em decorrência das mudanças climáticas recentes – povos do Brasil estavam na lista.

Txane Bane Huni Kuin, indígena do povo kaxinawá, discursou sobre a contaminação da água que afeta o povo indígena
Txane Bane Huni Kuin, indígena do povo kaxinawá, discursou sobre a contaminação da água que afeta o povo indígena

Entre os líderes indígenas brasileiros que estiveram presentes para a COP21 em Paris, Txane Bane Huni Kuin, xamã do povo kaximawá, viajou do Acre à capital francesa para relatar o sofrimento do seu povo quanto ao descuido da natureza, causado pelo modo de viver ocidental. Ele tem sido avisado com recorrência :
– Meus ancestrais sabiam que isso aconteceria com o tempo: as mudanças, os desentendimentos entre pessoas, culturas e diversidades. Eles falavam: nós estamos na floresta, mas o mosso mundo vai entrar em desequilíbrio – disse ele.
Como parte de um ciclo, o modelo de vida sustentável dos kaxinawá também está ameaçado.
– O que você tira da natureza, você tem de devolver – disse o xamã.
Atualmente, os rituais de cantos e danças para os espíritos guardiões da natureza são recorrentes, principalmente os pedidos de chuva. Assim, há todo um esforço ritual para realizar um ciclo de limpeza: a água da chuva limpa a água poluída por produtos tóxicos que vão de sabão a detritos industriais.
– A água não é feita pelo homem; ela é feita pela natureza – afirma ele.
Huni Kuin lembrou que a água não é apenas utilizada para consumo no dia-a-dia, mas também em rituais médicos. Medidas como infusões ou banhos terapêuticos estão ameaçadas caso a situação na região não seja revertida.
Na COP21
O indígena também pontuou, na reunião preparatória para a COP21, o rompimento da barragem que levou toneladas de lama tóxica ao Rio Doce, em Minas Gerais.
– É uma tragédia muito forte para o ser humano, para a vida. Para nós, nativos indígenas, é um dor incurável. E isso vai levar um tempo para curar – lamentou.
O curandeiro indígena acredita que tragédias como essas ajudam a conscientizar novas gerações. Trata-se do Xinã Bena, um conceito do povo kaximawa que significa “novo tempo”. Segundo Txane, será o momento em que os jovens de todo o mundo aprenderão com a maior fonte de todas: a natureza.
Marie Sigrist é estudante francesa de Antropologia no Museu Nacional da França sobre as questões indígenas e colaborou com o jornal Correio do Brasil.