Lembrei de Adhemar e decidi não votar

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Publicado terça-feira, 16 de setembro de 2014 as 17:04, por: CdB
Como corrupção não tem jeito, colunista decidiu não votar. O PT envelheceu e se viciou, diz ele.
Como corrupção não tem jeito, colunista decidiu não votar. O PT envelheceu e se viciou, diz ele.

De passagem pelo Brasil, li uma entrevista da presidente Dilma Rousseff que me fez lembrar de Adhemar de Barros, governador de São Paulo nos meados do século passado.

Ele ficou famoso como o governador do “rouba mas faz”. Levava dinheiro de empreiteiras, mas, dizia-se, seu governo era dinâmico.

Dilma disse agora que “há corruptos em todos os partidos”. Em miúdos, isto significa que não faz diferença votar num ou noutro candidato à presidência, pois a corrupção continuará.

No Brasil há uma corrupção generalizada, que começa no guarda da esquina e vai até os mais altos escalões Ainda agora, tenho três ações judiciais correndo em nossos tribunais e já me disseram claramente que terei que dar “algum” nas varas e cartórios, se não os casos ficam esquecidos.

Mas sou uma pessoa diferente e nunca me senti bem oferecendo um dinheiro ao guarda da esquina ou ao escrevente no cartório. Creio que meus processos continuarão engavetados, embora um deles esteja na Justiça do Trabalho – criada por lei com o objetivo precípuo de ser “rápida”.

O programa do PT é o que mais me agrada, por ser em favor de inclusão econômica e social, sem a qual nenhum país pode progredir.

Basta olhar ao redor do mundo para constatar que isto é verdade.

Mas infelizmente o PT envelheceu no governo, viciou-se e a confissão tácita da presidente Dilma Rousseff de que a corrupção é invencível me leva a me inclinar pelo direito de, com mais de 70 anos, simplesmente me abster de votar.

Vejam bem, não se trata de voto em branco. Trata-se de ficar em casa, exercendo um direito que deveria ser de todos mas está reservado apenas aos mais velhos: o direito de não votar.

Não votar porque não quero encampar a filosofia do “rouba mas faz”. Ou até, pior, visto que as coisas não progridem no momento no Brasil, “rouba e não faz”.

José Inácio Werneckjornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.

Direto da Redação é um fórum de debates, do qual participam jornalistas de opiniões diferentes, dentro do espírito da democracia plural, editado, sem censura, pelo jornalista Rui Martins.