Kofi Annan alerta sobre crescente demanda de missões de paz

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Publicado terça-feira, 7 de setembro de 2004 as 15:34, por: CdB

A demanda de missões de paz está atingindo níveis recordes, alertou o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em um relatório publicado nesta terça-feira e no qual faz um balanço dos avanços conseguidos na aplicação da Declaração do Milênio.

Como em todos os anos, Annan apresentou um relatório que avalia como os governos implementaram políticas e programas para alcançar os objetivos adotados na Cúpula do Milênio, em 2000, entre eles reduzir a pobreza pela metade em 2015.

Annan dedica uma grande parte de sua análise ao aumento das operações de paz, que, na sua opinião, indica que estão melhorando as expectativas para a resolução de conflitos, mas também exige, por parte dos Estados, mais compromisso político e recursos materiais e humanos.

Atualmente, a ONU está administrando 17 operações de paz, inclusive algumas em ambientes políticos frágeis como Afeganistão, Etiópia, Eritréia, Geórgia e Kosovo.

A ONU está se retirando gradualmente de países estáveis, como Serra Leoa, no qual ajudou o governo no processo de consolidação da paz e da democracia, e Timor Leste, onde contribuiu para o processo de independência.

No entanto, novas operações foram autorizadas no último ano, como na Libéria, Costa do Marfim, Haiti e Burundi, e se está planejando uma missão de paz no Sudão.

Em seu relatório, Annan estima que seriam necessários mais de 30.000 efetivos devido ao aumento de missões de paz, além dos 50.000 militares e policiais civis atualmente destacados.

Isso significa que o número de “capacetes azuis” poderá superar o momento mais ativo das operações de paz, em 1993, quando a ONU tinha 78.000 efetivos destacados em todo o mundo.

– A demanda das operações de paz da ONU aumentou em 2004, o que representa um desafio que não era visto desde que a complexidade das missões aumentou nos anos 90 – disse Annan em seu relatório.

Ele informou que embora seja possível encontrar tropas, há um déficit de capacidades militares especializadas, assim como também é necessário planejar políticas claras de retirada das missões quando seus objetivos estiverem cumpridos.

Em outras partes do relatório, o principal responsável da ONU destacou a necessidade de trabalhar de maneira sólida e contínua com as instituições e organismos locais para impulsionar o desenvolvimento econômico sustentável, o bom governo e o predomínio da lei.

Quanto à redução da pobreza, afirmou que enquanto houve avanços palpáveis em países asiáticos, norte da África, América Latina e Caribe, assim como na Comunidade de Estados Independentes (antiga União Soviética), existem áreas na África subsaariana que ainda estão em crise.

Ele destacou que são os países menos desenvolvidos, muitos deles sem saída para o mar, que estão mais atrasados nas Metas do Milênio e lamentou que alguns tenham registrado retrocessos enquanto tentavam atingir tais metas.

Apesar de a fome estar diminuindo em nível mundial desde 1990, Annan acredita que muitos dos países não poderão alcançar as Metas do Milênio 2relativas a outras áreas, como educação primária, igualdade de gêneros, mortalidade infantil e cooperação para o desenvolvimento.

Ele ressaltou que a assistência oficial para o desenvolvimento aumentou substancialmente desde a Cúpula do Milênio e passou de 52,4 bilhões de dólares em 2000 a 68,5 bilhões de dólares em 2003.

No entanto, destaca que a quantia oficial necessária para a assistência é fixada em 100 milhões de dólares pelo grupo de especialistas de alto-nível em financiamento para o desenvolvimento, chefiado pelo ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo.