Khodorkovsky afirma que Ucrânia precisa lutar pela soberania

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Publicado sexta-feira, 13 de junho de 2014 as 15:22, por: CdB
Em entrevista exclusiva, crítico do regime russo Mikhail Khodorkovsky fala sobre a Ucrânia
Em entrevista exclusiva, crítico do regime russo Mikhail Khodorkovsky fala sobre a Ucrânia

Em uma entrevista exclusiva à Deutsche Welle (DW), Mikhail Khodorkovsky, afirmou, que “Rússia e Ucrânia precisam conversar”. Segundo o crítico do governo russo, a situação no momento não está se agravando, mas ele não é nem um pouco otimista e acredita que o conflito na região possa se acirrar. A situação é extremamente difícil e perigosa tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, opina.

Questionado se Moscou irá se aproximar de Kiev, Khodorkovsky responde que essa não é a pergunta correta. O presidente russo, Vladimir Putin, tem uma série de exigências que pretende impor à Ucrânia, assegura.

– A questão é se depois disso a Ucrânia continuará sendo um Estado independente e soberano. Não tenho certeza disso – afirma. Por isso, agora é preciso mostrar resistência, porque, dessa maneira, Putin será levado a impor condições mais sensatas, completa.

Khodorkovsky é cético com relação a sanções. Ele não está completamente convencido de que elas sejam o meio adequado de impor resistência. “É muito mais importante que a população resolva a questão com as próprias mãos”, argumenta. “Se a Ucrânia quer permanecer livre e soberana, então ela precisa defender isso”, reforça Khodorkovsky. Ele espera que seja encontrado um consenso que represente toda a população ucraniana.

A entrevista foi realizada em Berlim durante o lançamento do novo livro de Khodorkovsky, Meus companheiros de prisão (na tradução do alemão). O ex-magnata era proprietário da petrolífera Yukos, agora falida, e foi preso em 2003. Em dois julgamentos, ele foi condenado por lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e fraude.

Entre os anos de 2003 e 2013 ele esteve preso em diversos presídios e colônias penais russos. Em 2011, Khodorkovsky começou a escrever uma coluna no jornal russo de oposição The New Times. Esses textos foram, agora, reunidos em um livro.

Companheiros de cela

Na coluna, o ex-magnata não escreve só sobre si mesmo, mas também sobre outros presidiários que conheceu em prisões da Sibéria e da Carélia. “O livro reúne um panóptico de existências e destinos que retratam uma grande parte da sociedade russa”, descreve no seu site a editora Galiani, que publicou o livro. Afinal, segundo a editora, as estatísticas apontam que 10% dos russos são presos ao menos uma vez na vida.

Segundo Khodorkovsky, atualmente 700 mil pessoas estão presas na Rússia. Mas essa informação, segundo ele, é ocultada no país. Ele diz que foi testemunha do sistema de humilhação que existe nos presídios. Que lá os direitos não interessam a ninguém, e que isso também acontece na sociedade russa, declara.

Depois da grande crise financeira da década de 1990, Putin decidiu que o princípio vigente na Rússia seria a corrupção como mecanismo de controle, o que, aliás, também é o princípio da política externa de Moscou, afirma Khodorkovsky.

Putin teria se decidido contra uma sociedade aberta e a favor de uma sociedade fechada, mas isso não pode funcionar por um longo período, também sob o ponto de vista econômico, diz. Por isso, Khodorkovsky acredita que, em alguns anos, haverá uma derrocada do sistema ou um regime extremamente nacionalista e fascista seguido de um colapso. Assim como para a Ucrânia, haveria também uma saída para a Rússia: “Ou nós mesmos a tomamos nas mãos, ou ela não acontecerá”, opina.

Originalmente, a intenção era publicar o livro no final do cumprimento da pena ou no início de um novo julgamento. Alguns textos foram escritos depois que Khodorkovsky foi libertado, em dezembro de 2013, após receber um indulto do presidente Vladimir Putin. O prefácio é de março deste ano.

O ex-magnata, de 50 anos, foi libertado seis meses antes do fim da pena. Ao sair da prisão, ele seguiu direto para a Alemanha. Ele vive atualmente na Suíça, em uma mansão à beira do lago de Zurique, cujo aluguel custa 9.500 euros por mês.

No final de maio, ele conseguiu uma autorização de residência de um ano na Suíça, onde seus dois filhos frequentam a escola. Segundo ele, o maior desafio depois que foi libertado é levar uma vida familiar normal.