Karzai convida Taliban a participar de eleição, líder rejeita

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Publicado domingo, 25 de abril de 2004 as 14:38, por: CdB

O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, fez uma oferta surpreendente ao Taliban no domingo, convidando o grupo a votar nas eleições de setembro, e disse que seu governo está tentando negociar a paz com os rebeldes.

Mas um dos principais líderes do Taliban, o mulá Dadullah, rejeitou o convite de Karzai e repetiu a ameaça de prejudicar a primeira eleição presidencial e parlamentar do país, negando que o Taliban esteja negociando com o governo.

A oferta de Karzai para o regime islâmico tirado do poder por forças lideradas pelos Estados Unidos em 2001 acontece após uma série de ataques do Taliban no sul e no sudeste do país que prejudicaram os esforços de autoridades da ONU para registrar milhões de eleitores.

– Eles são povo do Afeganistão – disse Karzai, em referência ao Taliban.

– Eles podem se registrar para votar e participar das eleições e fazerem e o que quiserem fazer – afirmou ele em entrevista coletiva durante visita a Kandahar.

Kandahar é o antigo bastião do Taliban e local de nascimento de Karzai, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato por um suposto membro do Taliban em 2002 naquela cidade.

– Vamos aumentar nossos esforços para prejudicar as eleições e vamos matar quem participar – disse Dadullah à Reuters por telefone via satélite a partir de um local não identificado.

Um homem afegão carregando granadas e um fuzil foi preso no domingo em Kandahar e a polícia suspeita que pretendia atacar Karzai.

Enquanto Karzai falava a repórteres, um porta-voz do Taliban disse que guerrilheiros emboscaram um comboio militar do governo em Shah Wali Kot, a cerca de 30 quilômetros de Kandahar. Autoridades locais não estavam disponíveis de imediato para comentar.

SUSPENSÃO DE REGISTROS

Uma série de ataques e explosões antes do fim de semana na Província de Kandahar forçou a ONU a suspender o registro de eleitores por um curto período na área, disse o porta-voz David Singh em Cabul no domingo.

Cerca de 1,8 milhão dos 10 milhões de eleitores do Afeganistão foram registrados para a votação de setembro, que foi adiada de junho por temores de segurança.

Os militares dos EUA disseram no sábado que o Taliban parece disposto a influenciar a votação no sul e no leste com ataques contra alvos como políticos locais e forças de segurança afegãs, e que a violência está crescendo em Kandahar.

Karzai, favorito nas eleições, também enfrenta conflitos no norte com comandantes de milícias regionais. Sem dar detalhes ou nomes, Karzai reiterou que seu governo está “conversando com alguns líderes Taliban.” “Há somente 100 ou 150 talibans que, com ajuda de outros, querem destruir este país. O restante são pessoas normais e que Deus os traga e os assente em seu próprio país.”

Mas Dadullah negou. “Ele (Karzai) quer criar divisão no Taliban. Eu tenho 500 combatentes sob meu comando. Temos força”, disse.

O Taliban declarou jihad, guerra santa, contra tropas estrangeiras e do governo do Afeganistão e funcionários de organizações humanitárias. Mais de 650 pessoas morreram vítimas de confrontos violentos desde agosto de 2003, a maioria em ações creditadas ao Taliban.

Dadullah reiterou que militantes do Taliban, que estão sendo caçados por cerca de 15.500 soldados estrangeiros liderados pelos EUA, vão atingir tanto trabalhadores locais quanto estrangeiros no Afeganistão.