Japonês conservador assume o governo com promessas militaristas

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Publicado terça-feira, 26 de setembro de 2006 as 13:12, por: CdB

O japonês Shinzo Abe, que defende relações mais próximas com Washington e uma maior participação do Japão nas questões mundiais, foi eleito pelo Parlamento nesta terça-feira primeiro-ministro do Japão, tornando-se o líder mais jovem do país desde a Segunda Guerra Mundial. Abe, de 52 anos, que é relativamente novo pelos padrões políticos japoneses, enfrenta o desafio de reparar o relacionamento com a China — danificado pelas visitas de seu antecessor, Junichiro Koizumi, ao memorial de guerra Yasukini, e de manter o curso das reformas econômicas, ao mesmo tempo em que trata das crescentes diferenças sociais.

– Esperamos que o novo líder japonês faça esforços para melhorar as relações entre China e Japão – disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Qin Gang, em entrevista coletiva em Pequim.

As relações pioraram depois que Koizumi assumiu o cargo, em abril de 2001, e começou a fazer visitas anuais ao memorial Yasukuni, visto em Pequim e em Seul como símbolo do passado militarista do Japão. Em seu novo gabinete, que já foi anunciado, o ministro das Relações Exteriores Taro Aso, de 66 anos, que compartilha de muitas das visões conservadores de Abe, foi mantido no cargo, e o ex-ministro da Defesa Fumio Kyuma, de 65 anos, foi nomeado para reassumir a pasta. Koji Omi, de 73 anos, ex-chefe da agência de planejamento econômico, foi nomeado ministro das Finanças, e o professor de economia Hiroko Ota assumirá a pasta da Economia.

Legislador popular e neto de um ex-premiê, Abe prometeu reescrever a Constituição pacifista do Japão, aumentar a participação de Tóquio em assuntos globais e reativar o respeito por valores tradicionais e o orgulho do passado do país. Ele também prometeu fomentar o crescimento e manter as reformas econômicas iniciadas por Koizumi, além de dar preferência ao corte de gastos antes do aumento de impostos na luta do Japão para controlar o enorme déficit público, o maior entre os países avançados.

Koizumi, um dos líderes mais populares do Japão, sorriu e acenou depois de receber um buquê de flores e aplausos na cerimônia no gabinete do primeiro-ministro que encerrou seu mandato. O ex-premiê Koizumi, especialista em truques de mídia e conhecido por aparecer ao lado de celebridades, deixou sua marca na cena política japonesa depois de assumir o poder, em abril de 2001, com promessas de afastar seu partido dos interesses pessoais e retirar a forte influência do governo da economia.

Relações internacionais

Ichiro Ozawa, líder do Partido Democrático, o principal da oposição e que sofreu uma derrota marcante na eleição de setembro de 2005, teve 115 votos, contra os 339 de Abe entre os 480 assentos da câmara baixa. Ozawa, de 64 anos, que sofre de problemas cardíacos, foi internado na segunda-feira para fazer exames, mas participou da sessão. Abe escolheu o vice-ministro do Exterior, Yasuhisa Shiozaki, de 55 anos, que estudou em Harvard e é ex-presidente do banco central, como secretário-chefe de gabinete, o braço direito do premiê e principal porta-voz do governo. Abe ocupou o cargo até outubro passado.

Abe recompensou legisladores que participaram de sua campanha para premiê, mas alguns disseram que a formação demonstra que seu foco está mais em assuntos estrangeiros e segurança do que em economia.

– Não há estrelas nas pastas econômicas. Este é um gabinete em que o foco político está no exterior e na defesa, e o gerenciamento fiscal e econômico foi deixado para o piloto automático burocrático – disse Jesper Koll, economista-chefe da Merrill Lynch em Tóquio.

O ministro das Relações Exteriores Aso mantém seus principais diplomatas, e Pequim e Tóquio sentem que estão na direção de um possível degelo nos relacionamentos. Aso ofendeu a China e a Coréia do Sul com declarações sobre o passado colonial e das guerras do Japão no Ásia. Recentemente, ele se encontrou com diplomatas chineses para debater uma possível retomada de re