Israel entra em prontidão contra violência

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Publicado sexta-feira, 5 de agosto de 2005 as 09:03, por: CdB

Israel entrou em alerta nesta sexta-feira para uma possível onda de tumultos, depois que um militante judeu matou quatro árabes israelenses.

O primeiro-ministro de Israel condenou duramente o ataque, cometido por um soldado adolescente que foi linchado após matar quatro palestinos dentro de um ônibus na cidade árabe de Shfaram. Ariel Sharon disse tratar-se de “um terrorista sedento por sangue” e disposto a envenenar as relações bilaterais.

Ele prometeu manter a desocupação da Faixa de Gaza a partir do dia 17, mesmo que radicais judeus tentem impedi-la.

O vice-primeiro-ministro Shimon Peres comentou à Rádio Israel:

– Meu Deus, como este país é vulnerável à ação de assassinos, loucos e fanáticos que ameaçam todas as nossas vidas, de judeus e também árabes, a paz e a esperança. Essa gente deveria ser erradicada. Espero que esse país se una para punir os responsáveis – diss ele. 

Milhares de policiais israelenses foram deslocados para áreas árabes no norte de Israel, onde aconteceu o ataque desta quinta-feira, a bordo de um ônibus intermunicipal. O objetivo é evitar potenciais confrontos antes ou depois do enterro das quatro vítimas, nesta sexta-feira.

Outro possível ponto problemático é um lugar de Jerusalém sagrado para muçulmanos e judeus. Sexta-feira é o dia das principais preces islâmicas.

O Hamas, que mantém um precário cessar-fogo com Israel, ameaçou represálias pelo atentado ao ônibus.

Centenas de moradores de Shfaram manifestaram condolências às famílias das vítimas — o motorista e um homem de meia-idade, ambos cristãos, e duas irmãs muçulmanas com cerca de 20 anos. Pelo menos 22 pessoas, a maioria árabes, ficaram feridas.

O local do ataque foi transformado em um memorial improvisado, cheio de flores. Funcionários municipais ainda retiravam os estilhaços de vidro.

– Nossa cidade está no coração do Estado de Israel, e estão atacando as pessoas aqui. O Estado não está fazendo o suficiente por seus cidadãos árabes – disse o gari Mounir Baki.

Os árabes formam cerca de 20% da população de Israel e frequentemente se sentem discriminados. Eles são solidários com a rebelião dos territórios palestinos, mas raramente se envolvem na militância.

– Pode haver muitos problemas hoje (sexta-feira) . Se acontecer, será contra a polícia, porque ontem (quinta-feira ) os policiais quiseram proteger esse terrorista – disse Wafiq Abu Shah, referindo-se aos esforços iniciais da polícia para prender o atirador.

O Exército disse que Eden Nathan Zaada, 19, havia desertado recentemente e tinha um “histórico problemático”.

Agências de segurança já haviam alertado para a possibilidade de ataques de radicais judeus contra árabes às vésperas da desocupação de Gaza.

A mãe de Zaada disse à Rádio Israel que comunicou há duas semanas ao Exército que o rapaz estava armado, tinha opiniões ultradireitistas e poderia ser perigoso, mas nada foi feito.

Foi o pior ataque cometido por um radical judeu desde que um colono da Cisjordânia matou 29 palestinos que rezavam em uma mesquita. Seis semanas depois, começou uma onda de atentados suicidas palestinos.

A imprensa israelense disse que Zaada, que se mudou recentemente do seu subúrbio de Tel Aviv para um assentamento de radicais judeus na Cisjordânia, deixou seu quartel porque era contra os preparativos militares para a desocupação de colonos que resistirem na Faixa de Gaza.

A polícia prendeu três jovens no assentamento de Tapuach sob suspeita de que eles sabiam da intenção de Zaada de matar árabes.

O ministro da Defesa, Shaul Mofaz, ordenou que Zaada não seja sepultado em um cemitério militar, porque “não merece”, segundo nota.