Israel constrói muro para isolar Jerusalém

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Publicado segunda-feira, 12 de janeiro de 2004 as 18:50, por: CdB

Com milhares de toneladas de concreto, Israel iniciou nesta segunda-feira (12) a construção de um muro de oito metros de altura na periferia de Jerusalém, sinalizando que o isolamento da cidade sagrada pelo Estado judeu começa a tornar-se permanente.

O muro, que segue o trajeto de uma importante avenida de Abu Dis, um bairro palestino, separa milhares de moradores árabes de Jerusalém.A construção do novo muro substitui uma barreira bem menor que reduziu, mas não paralisou, o fluxo de pessoas e bens entre as áreas palestinas e israelenses dessa região.

O muro faz parte de uma barreira que Israel vem construindo entre seu território e a Cisjordânia com o objetivo alegado de impedir a entrada de militantes palestinos dispostos a perpetrar atentados contra alvos israelenses.

Líderes palestinos estão enfurecidos com a construção da barreira – um emaranhado de muros, cercas e trincheiras que invade grandes porções da Cisjordânia para englobar assentamentos judaicos construídos em terras reivindicadas pelos palestinos para o estabelecimento de seu futuro Estado independente e soberano.

Apesar de Israel afirmar que a barreira poderia ser derrubada se houver um acordo de paz, os críticos denunciam que o muro cria uma fronteira que engole quase metade da Cisjordânia e a isola de Jerusalém.

Ao longo de seu trajeto, a barreira impede que muitos palestinos possam trabalhar nos campos, freqüentar escolas, ir a hospitais e trabalhar.Em Abu Dis, um bairro palestino perto do Monte das Oliveiras, o novo muro também levanta questões altamente emocionais.

Durante recentes esforços de paz, negociadores propuseram a utilização de Abu Dis como centro de uma capital palestina que incorporaria partes de Jerusalém Oriental, capturada por Israel durante a Guerra dos Seis Dias. A porção árabe da cidade sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos é reivindicada pelos palestinos como capital de seu futuro Estado.

O edifício construído para abrigar o futuro Parlamento palestino fica em Abu Dis, assim como diversas outras repartições públicas. O primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Ahmed Qureia, mora no bairro.

Muitos moradores da área consideram-se habitantes de Jerusalém, pois possuem documentos de identificação de Israel e pagam seus impostos municipais à prefeitura de Jerusalém. Eles vão a Jerusalém para trabalhar, estudar, fazer compras, visitar familiares e para obter certidões de casamento e óbito, por exemplo.

O novo muro, porém, impede tudo isso. Com bairros árabes aos dois lados, a barreira impede que familiares possam visitar uns aos outros.

– Isto não é natural e é  inaceitável – disse Salah Bader, uma autoridade local.

– Eles estão apertando a corda em torno de nosso pescoço – completou.

Mestres de obra e peões chegaram ao local na noite de sábado para derrubar um muro de dois metros que se transformara numa piada local.

Todos os dias, estudantes, trabalhadores, empresários e até mesmo idosas subiam em caixas ou pedras para pular o muro.

Mas não havia risadas nesta segunda-feira, quando operários israelenses erigiram uma muro quatro vezes maior bem no meio da Rua Shayah, que abriga lojas e edifícios. O muro separa Abu Dis de Ras al-Amud.

Enquanto um grupo de operários derrubava a praticamente invisível barreira interior, buldôzeres e guindastes removiam a terra para instalar os novos blocos de oito metros de altura.

Funcionários do governo palestino já referem-se à barreira entre Israel e Cisjordânia como o “novo Muro de Berlim”. Aquele muro, construído para evitar que alemães orientais fugissem para o Ocidente, tinha entre 3,5 e 4,2 metros de altura.

A população local preocupa-se com os transtornos à vida civil.

Antes, era preciso apenas atravessar a rua para estar em Jerusalém. Agora, os moradores locais terão de se dirigir a leste e contornar o assentamento judaico de Maaleh Adumi