Iranianos fazem filas para votar em sua mais disputada eleição

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Publicado sexta-feira, 24 de junho de 2005 as 08:46, por: CdB

Os iranianos vão às urnas nesta sexta-feira, no acirrado segundo turno das eleições presidenciais, que podem levar a um endurecimento das relações com o Ocidente e ao fim da incipiente liberalização, caso o candidato conservador derrote Akbar Hashemi Rafsanjani.

Os eleitores faziam longas filas na zona sul de Teerã, uma região pobre que é reduto do ultra-conservador prefeito Mahmoud Ahmadinejad, que chegou ao segundo turno com um discurso religioso e recheado de promessas de melhor distribuição da riqueza do petróleo.

– Vou votar no Ahmadinejad, porque ele quer cortar as mãos dos que estão roubando a riqueza nacional. Ele quer combater a pobreza, a fraude e a discriminação – disse Rahmatollah Izadpanah, de 41 anos, na fila de uma seção eleitoral da zona sul.

Em bairros mais ricos, os eleitores de Rafsanjani compareceram em massa, temendo que a vitória de Ahmadinejad ressuscite a rigidez e os expurgos que se seguiram à Revolução Islâmica de 1979. Algumas seções estão lotadas, mas no início da votação vários locais eleitorais da zona norte estavam bastante tranquilos.

– Nossa liberdade está em jogo. Pedi a todos os meus amigos que votassem o mais cedo possível – disse Somayeh, de 23 anos, que usava o véu obrigatório, mas uma maquiagem que desagrada aos mais conservadores.

Analistas dizem que o resultado é imprevisível, e que a disputa reflete as profundas divisões sociais entre os 67 milhões de iranianos.

Rafsanjani, um clérigo que já foi presidente entre 1989 e 97, era um conservador que agora se apresenta como liberal. Ele promete manter as reformas do atual presidente, Mohammad Khatami, que atenuou as regras sociais islâmicas e buscou uma aproximação com o Ocidente.

– Pretendo desempenhar um papel político histórico para conter a dominação do extremismo – disse Rafsanjani, de 70 anos, após votar.

Ahmadinejad, de 48, cuja passagem ao segundo turno surpreendeu a todos, diz que as relações com os Estados Unidos não são prioridade. Ele é um fiel seguidor do líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, que pelo sistema teocrático tem a palavra final sobre todos os assuntos de Estado.

– Hoje é o começo de uma nova era política para a nação iraniana – disse Ahmadinejad após votar.

Os adversários temem que ele realize expurgos nos ministérios e em outros órgãos, pois já fez isso como prefeito de Teerã.

Atualmente, os ministérios do Interior, da Cultura e da Economia, entre outros, são controlados por reformistas apoiados por Khatami. Bijan Zanganeh, ministro do Petróleo do Irã – o segundo maior produtor da Opep – compareceu nesta semana a um comício de Rafsanjani.

Os Estados Unidos consideram a eleição injusta, porque um órgão religioso não-eletivo barrou a ampla maioria das candidaturas. Muitos analistas dizem que as críticas norte-americanas acabaram incentivando o comparecimento dos iranianos às urnas no primeiro turno, na semana passada. No total, voltaram 63% dos 47 milhões de eleitores maiores de 15 anos.

– Quanto mais gente participar da eleição, melhor será para o próximo presidente, para a proteção do Irã e para a obtenção dos nossos objetivos – disse Khamenei, que votou logo após a abertura das urnas.

Sete candidatos disputaram o primeiro turno. Esta é a primeira vez na história que uma eleição presidencial iraniana é decidida no segundo turno.

Os eleitores de Rafsanjani tendem a ser das classes média e alta, uma camada cansada do isolamento iraniano e ávida por mais liberdades sociais e econômicas.

Ahmadinejad, ex-instrutor da milícia Basij, formada por zelosos guardiões dos ideais revolucionários, tem apoio da classe trabalhadora, que em geral não se importa com as restrições religiosas e tem dificuldades para sobreviver com seus salários.

Para eles, Ahmadinejad é alguém de fora da política, que chegou para desafiar os interesses empresariais da rica família Rafsanjani e de outros que, n