Irã propõe prazo para negociações nucleares

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Publicado segunda-feira, 14 de março de 2005 as 19:12, por: CdB

Queixando-se do ritmo lento das negociações com a União Européia, o Irã disse na segunda-feira que pretende apresentar em breve uma proposta à UE para finalizar as conversações sobre o destino do programa nuclear do país.

O Irã insiste que seu programa nuclear é voltado exclusivamente para a geração de energia pacífica, mas a UE e os Estados Unidos temem que o país possa estar desenvolvendo armas atômicas.

A UE diz que o Irã tem o direito de usar a energia nuclear, mas quer que o país abandone seus planos de produzir seu próprio combustível nuclear — um processo que lhe daria capacidade também para obter material para bombas.

Sirus Naseri, um dos principais negociadores do Irã com a UE, disse à TV estatal que Teerã não quer confronto. “Mas se eles não responderem ao que acreditamos ser uma posição lógica, então eles podem escolher seu próprio caminho, e estamos preparados para lidar com as consequências”, afirmou.

“Pode não demorar muito para colocarmos sobre a mesa nossa proposta final, e daremos a eles um prazo para aceitá-la ou rejeitá-la”, disse Naseri. “Não estamos longe desse estágio”.

O Irã congelou atividades nucleares estratégicas, como o enriquecimento (purificação) de urânio para uso em usinas e armas, enquanto mantém as negociações com os europeus.

Mas o país considerou insignificante a iniciativa conjunta de UE e EUA para permitir que Teerã negocie sua adesão à Organização Mundial do Comércio e compre peças de aviação comercial hoje sob embargo, em troca de abandonar definitivamente o trabalho com combustível nuclear.

O Irã já divulgou uma proposta que lhe permitiria manter um pequeno programa de enriquecimento, que seria monitorado de perto pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU), segundo diplomatas em Viena, onde funciona a organização.

O Irã seria autorizado a manter cerca de 500 centrífugas — número pequeno para a fabricação de bombas atômicas — e só poderia enriquecer o urânio para que ele contivesse no máximo 3,5 % do isótopo 235. Para a fabricação de bombas, o urânio precisa ter pelo menos 90 % do isótopo 235.

Joe Cirincione, diretor do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, dos EUA, disse que tal acordo seria inaceitável para os europeus e norte-americanos. “Nas capitais, ele está sendo descartado”, afirmou. “Não dá para ficar ligeiramente grávida, essa é a idéia”.

Um diplomata europeu, falando sob anonimato, confirmou esta opinião. “Agora estamos ligados aos EUA e isso não seria aceitável”, disse ele, acrescentando que a UE não quer que o Irã cultive a tecnologia do enriquecimento.

Os EUA e a União Européia ameaçam submeter o Irã a sanções da ONU caso o país não ceda. Teerã promete “garantias objetivas” de que não vai usar sua tecnologia nuclear para a construção de bombas.

As negociações entre a UE e o Irã devem ser retomadas nesta semana em Genebra, antes da importante reunião que vai decidir, nos dias 22 e 23, em Paris, se o diálogo será mantido. “O que está claro para mim é que estamos andando no fio da navalha”, disse Naseri. “Não há garantia de que obteremos um acordo”.