Irã decidirá se retoma processo de enriquecimento de urânio

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Publicado sábado, 19 de junho de 2004 as 09:36, por: CdB

O governo do Irã anunciou no sábado que decidirá nos próximos dias se vai retomar suas atividades de enriquecimento de urânio após uma dura resolução da ONU ter repreendido Teerã por não cooperar integralmente com as inspeções nucleares.

O enriquecimento, um processo de purificação do urânio para utilização em usinas nucleares, pode também ser usado para fazer armas atômicas. Uma retomada desse processo no Irã poderia dar força aos argumentos dos Estados Unidos de que Teerã busca o desenvolvimento de armas nucleares.

O governo iraniano, que diz usar seu programa nuclear apenas para a produção de energia elétrica, ficou revoltado em um encontro da Agência Nacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU), que aprovou na sexta-feira uma resolução criticando a cooperação do país e sua transparência.

“O Irã vai rever sua decisão sobre a suspensão e anunciaremos nossa decisão nos próximos dias”, disse Hassan Rohani, secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional iraniano, em entrevista coletiva.

Espera-se uma reação do Irã à resolução da AIEA. Teerã retaliou as conclusões do último encontro do conselho da organização em março passado, que também criticavam sua cooperação, suspendendo a visita de inspetores por quase um mês.

O Irã aceitou suspender o enriquecimento de urânio em outubro passado, em uma medida que qualificou de voluntária e temporária, com a intenção de restabelecer a confiança internacional após ter sido revelado que o país manteve em segredo delicadas pesquisas nucleares por quase duas décadas.

Rohani ressaltou, no entanto, que o Irã provavelmente não vai retomar a injeção de gás hexafluorido de urânio em centrífugas que giram em alta velocidade para a produção de urânio enriquecido.

“Devo destacar que nossa decisão pode ser não retomar o enriquecimento em si. Podem ser outras atividades, como a produção de partes. Provavelmente nós não vamos continuar a injetar gás nas centrífugas por um tempo,” afirmou.

Grã-Bretanha, França e Alemanha, que apoiaram a suspensão do processo de enriquecimento em outubro passado, expressaram mal-estar com a decisão do Irã de continuar a produzir partes de centrífugas em fábricas privadas. A resolução de sexta-feira da AIEA exortava o Irã a desistir dessa atividade.

Uma porta-voz da agência, no entanto, negou-se a comentar as afirmações de Rohani.

O enviado dos EUA para a AIEA, Kenneth Brill, disse na sexta-feira que uma retomada do processo de enriquecimento “seria outra demonstração das verdadeiras motivações” do Irã.

“Eles estão determinados a ter um programa de enriquecimento, um que vai bem além das necessidade de um programa de energia, que sustenta o desejo deles de buscar finalidades militares em seu programa nuclear,” afirmou Brill a jornalistas.