Indústria automotiva precisaria de mais mercado interno, aponta seminário

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Publicado terça-feira, 28 de junho de 2005 as 19:30, por: CdB

Ampliar o consumo de veículos no mercado interno é o ponto de consenso como prioridade de uma política industrial automotiva de longo prazo, apontada por sindicalistas, montadoras e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), do governo federal. O impasse está nos mecanismos para alcançar esse objetivo e sua ordem prioritária. A política industrial foi tema do segundo dia de trabalhos da Conferência Latino-americana para a Indústria Automotiva, organizada pela Federação Internacional dos Trabalhadores na Indústria Metalúrgica (Fitim).

Para o diretor da ABDI, Mário Salerno, os desafios da indústria automotiva brasileira se concentram no aumento de demanda no país e na América Latina; na busca por consolidar-se como sede de produção e de projetos; na busca por atender nichos de mercado, como veículos populares, 4x 4, compactos, além de aumentar numero de veículos derivativos.

– O Brasil sofre pressão competitiva de países que têm produtos a custo de mão-de-obra barata – estereótipo da China – e pressão de países que se baseiam em inovação e diferenciação de produtos – como o estereótipo da Alemanha – explica Salerno.

Ele destaca que o investimento em inovação e diferencial tem impacto positivo em salário, emprego, aumento de exportação e lucro. De acordo com Parleno, empresas que inovam e diferenciam pagam salário médio três vezes maior, conforme indica estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogélio Golfarb, destaca que os investimentos por modelo no país foram de U$ 2,5 milhões no ano passado, cinco vezes menores do que em 1994.

– Não temos rentabilidade para investir – justifica. Para Golfarb a indústria automotiva brasileira vive uma crise de custos, compreendida pela elevação do preço dos insumos, como o aço, metais não-ferrosos e plásticos; elevada carga tributária, alta taxa de juros e renda reduzida.

Apesar desses fatores que significam perda de competitividade para indústria, a Anfavea prevê alcançar neste ano uma produção de 1,650 milhão de veículos, crescimento de 5% em relação ao ano passado. De acordo com Golfarb, esse crescimento se sustenta pela exportação, beneficiada pela desvalorização cambial iniciada em 1999, que começou a dar resultado a partir de 2001.

– Essas condições se desfizeram, câmbio e custo se deterioraram –  ressalta. O presidente da Anfavea disse que os resultados no setor têm reflexos tardios e que é difícil prever quando ocorrerão efeitos negativos.

Na avaliação do presidente do sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopes Feijóo, essa melhora de desempenho do setor acomodou o governo, que teria paralisado as negociações tripartites (entidades patronais, dos trabalhadores e governo) sobre um contrato coletivo nacional, com piso unificado, jornada de trabalho de 40 horas e direito à representação no local de trabalho.

– A economia registra crescimento e a indústria está bem. É o momento de discutir políticas industriais para longo prazo e não políticas emergenciais –  ressalta.

Feijóo destaca a renovação de frota e reciclagem de peças como fatores que devem fazer parte de uma política industrial mais complexa.

– O Brasil tem um alto potencial de renovação e reciclagem, porque a idade média dos veículos é de 10 anos. Só com a renovação da frota haveria um incremento na produção de 500 mil veículos ao ano –  afirmou.

Na conferência que reúne sindicalistas de nove países, os participantes discutiram a preocupação com a migração de investimentos para o Leste Europeu e para os países asiáticos, principalmente a China. Neste contexto, os sindicalistas defendem uma mobilização conjunta para, a partir da Fitim, negociar mundialmente os interesses da categoria, pois as montadoras instaladas no país propõem alianças comerciais do Brasil com outros países.