A impagável dívida grega

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Publicado domingo, 19 de julho de 2015 as 18:14, por: CdB
O Brasisl que tome cuidado para não entrar numa recessão motivada por uma variação de austeridade
O Brasisl que tome cuidado para não entrar numa recessão motivada por uma variação de austeridade

Enquanto estive na Europa, recentemente, embora de férias, acompanhei na medida do possível as notícias sobre a crise econômica na Grécia. Minha impressão é que não apenas estamos diante de uma autêntica tragédia grega, com uma dívida impossível de ser paga, como o que se passa lá encerra lições importantes, para o Brasil.

Por que a dívida grega é impagávelA? Porque em sua ânsia de “austeridade”, as autoridades monetárias do norte da Europa, especiamente da Alemanha, mas também da Holanda, da Finlândia e de alguns países que emergiram da antiga União Soviética, impuseram um regime econômico que faz a economia grega encolher, em vez de crescer.

Se uma economia não cresce, não arrecada o suficiente em impostos para pagar as dívidas que assumiu no passado e continua a assumir no presente.

Por que a Grécia continua a acumular dívidas? Porque todo o “bail-out”,  todo o socorro que recebe do Banco Central da Europa, da União Europeia e do FMI é apenas dinheiro que precisa ser pago mais adiante.

E como a  economia do país produz cada vez menos, arrecada cada vez menos – e vê a proporção de seu PIB tornar-se paulatinamente menor diante do que deve aos “credores”.

O novo acordo no momento negociado elevará a dívida grega a 200% de seu PIB. Como pagar cada vez mais a insaciáveis credores se você produz cada vez menos?

Credores que são sobretudo investidores particulares e instituições públicas do norte do continente, orquestrados, uns e outros pelo inflexível e impiedoso Ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schåuble.
Os governos americano e francês, alarmados com o que se passa, fazem pressão junto à Chanceler Alemã, Angela Merkel, para  não colocar a Grécia numa direção que acabará afastando-a irremediavelmente do mundo ocidental – e provavelmente na órbita da Rússia de Vladimir Putin.

O ex-Ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, afirmou neste fim de semana que as reformas fiscais exigidas  pela União Europeia, com a Alemanha à frente, vão fracassar.

É dificil discordar dele, pois afinal é isto o que vem acontecendo desde o primeiro dia em que a Grécia deixou-se crucificar pela poítica de austeridade econômica.

Isto me leva a pensar no Brasil que  tem, em seu favor, ao menos a vantagem de ser o dono de sua própria moeda, o real, o que não ocorre com a Grécia, acorrentada ao euro.

Mas nosso problema também é da falta de crescimento econômico. O país deixou de crescer, deixou de produzir, nosso PIB vem caindo e a questão no fundo é a mesma com que se defronta a Grécia: reformas fiscais só fazem levar cada vez mais ao fundo do poço se a economia de um país diminui, em vez de crescer.

É oportuno lembrar a regra áurea de quem se encontra em um poço: deixar de cavar.

José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.

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