![O Brasisl que tome cuidado para não entrar numa recessão motivada por uma variação de austeridade](http://correiodobrasil.com.br/wp-content/uploads/2015/07/DIRETO-CONVIDADO111.jpg)
Enquanto estive na Europa, recentemente, embora de férias, acompanhei na medida do possível as notícias sobre a crise econômica na Grécia. Minha impressão é que não apenas estamos diante de uma autêntica tragédia grega, com uma dívida impossível de ser paga, como o que se passa lá encerra lições importantes, para o Brasil.
Por que a dívida grega é impagávelA? Porque em sua ânsia de “austeridade”, as autoridades monetárias do norte da Europa, especiamente da Alemanha, mas também da Holanda, da Finlândia e de alguns países que emergiram da antiga União Soviética, impuseram um regime econômico que faz a economia grega encolher, em vez de crescer.
Se uma economia não cresce, não arrecada o suficiente em impostos para pagar as dívidas que assumiu no passado e continua a assumir no presente.
Por que a Grécia continua a acumular dívidas? Porque todo o “bail-out”, todo o socorro que recebe do Banco Central da Europa, da União Europeia e do FMI é apenas dinheiro que precisa ser pago mais adiante.
E como a economia do país produz cada vez menos, arrecada cada vez menos – e vê a proporção de seu PIB tornar-se paulatinamente menor diante do que deve aos “credores”.
O novo acordo no momento negociado elevará a dívida grega a 200% de seu PIB. Como pagar cada vez mais a insaciáveis credores se você produz cada vez menos?
Credores que são sobretudo investidores particulares e instituições públicas do norte do continente, orquestrados, uns e outros pelo inflexível e impiedoso Ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schåuble.
Os governos americano e francês, alarmados com o que se passa, fazem pressão junto à Chanceler Alemã, Angela Merkel, para não colocar a Grécia numa direção que acabará afastando-a irremediavelmente do mundo ocidental – e provavelmente na órbita da Rússia de Vladimir Putin.
O ex-Ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, afirmou neste fim de semana que as reformas fiscais exigidas pela União Europeia, com a Alemanha à frente, vão fracassar.
É dificil discordar dele, pois afinal é isto o que vem acontecendo desde o primeiro dia em que a Grécia deixou-se crucificar pela poítica de austeridade econômica.
Isto me leva a pensar no Brasil que tem, em seu favor, ao menos a vantagem de ser o dono de sua própria moeda, o real, o que não ocorre com a Grécia, acorrentada ao euro.
Mas nosso problema também é da falta de crescimento econômico. O país deixou de crescer, deixou de produzir, nosso PIB vem caindo e a questão no fundo é a mesma com que se defronta a Grécia: reformas fiscais só fazem levar cada vez mais ao fundo do poço se a economia de um país diminui, em vez de crescer.
É oportuno lembrar a regra áurea de quem se encontra em um poço: deixar de cavar.
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
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