Igreja polonesa quer investigações sobre espião do papa

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado quinta-feira, 28 de abril de 2005 as 14:44, por: CdB

A Igreja Católica da Polônia pediu na quinta-feira uma investigação ampla sobre as acusações de que um de seus padres espionava o papa João Paulo II para o serviço secreto polonês da era soviética.

Uma agência do governo que analisa os arquivos da era comunista disse na quarta-feira que o padre Konrad Hejmo, que cuidava de peregrinos poloneses no Vaticano por cerca de 20 anos e tinha acesso a João Paulo II, passava informações sobre ele durante os anos 1980.

As alegações surpreenderam muitos poloneses. O pontífice nascido na Polônia, morto no dia 2 de abril, é reverenciado em sua terra como um guia moral sem rivais e teve um papel importante na queda do comunismo na Polônia e no Leste Europeu.

– Recebemos essa informação com grande surpresa e dor, mas não há dúvidas de que o caso requer um esclarecimento honesto e completo – disse a Conferência dos Bispos da Polônia em um comunicado.

A ordem religiosa de Hejmo, os dominicanos, disse que seu chefe polonês, padre Maciej Zieba, viajaria a Roma na semana que vem para falar com ele, que nega as acusações.

Hejmo disse na quarta-feira que nunca cooperou conscientemente com os serviços secretos e diz que os relatos atribuídos a ele nos arquivos secretos poderiam vir de outra pessoa.

Ele também disse acreditar que um homem a quem encontrou e deu documentos poderia ser um agente do alemão oriental. O Vaticano não comentou o caso.

O Instituto Nacional de Memória da Polônia, que analisa e pesquisa os arquivos comunistas, disse ter evidências de que Hejmo era um informante consciente do temido serviço secreto polonês, a SB.

Nos anos 1980, período da suposta espionagem de Hejmo, a SB tentou se infiltrar na Igreja por seu apoio à oposição anticomunista, liderada pelo então proibido movimento Solidariedade.
João Paulo 2o tinha ligações com a oposição democrática quando era arcebispo de Cracóvia nos anos 1960 e 1970. Sua eleição a papa em 1978 gerou um despertar nacional que resultou no nascimento do Solidariedade, dois anos depois.

– Para os comunistas, ele era o inimigo número um – disse à Reuters Marek Lasota, historiador que pesquisou as atividades do serviço secreto contra o antigo papa.

– Eles tentaram monitorar seus passos e é óbvio que tentaram ter acesso a outros clérigos para informá-los sobre ele.

Os bispos poloneses reconhecem que a SB pode ter conseguido recrutar alguns padres, mas analistas dizem que a imagem da Igreja não deve sofrer arranhões com o caso.

– Este caso não deve ter nenhuma influência no reconhecimento da posição de liderança da Igreja no movimento Solidariedade – disse Marcin Przeciszewski, especialista em temas da Igreja.