Holandês é acusado de vender armas químicas ao Iraque

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Publicado sexta-feira, 18 de março de 2005 as 10:50, por: CdB

Um executivo holandês acusado de vender ingredientes das armas químicas utilizadas por Saddam Hussein contra os curdos iraquianos foi apresentado à Justiça nesta sexta-feira, sob acusação de cumplicidade em crimes de guerra e genocídio.

Os promotores dizem que Frans van Anraat, 62, forneceu milhares de toneladas de agentes para um gás venenoso usado pelo governo iraquiano na guerra contra o Irã, entre 1980 e 1988, e contra os civis curdos, incluindo o ataque na cidade de Halabja, em 1988.

Agências de inspeção de armas da Organização das Nações Unidas (ONU) já descreveram Van Anraat como um dos intermediários mais importantes na compra pelo Iraque de matéria-prima para armas químicas.

– Sabia-se desde meados dos anos 1980 que o governo iraquiano estava usando gás venenoso na guerra contra o Irã e contra sua própria população – disse o promotor Fred Teeven, ao descrever as acusações na audiência pré-julgamento de Roterdã.

Saddam e seu temido primo Ali Hassan al-Majid, também conhecido como “Ali Químico”, devem ser julgados por crimes de guerra, que incluem o ataque a Halabja, num tribunal especial no Iraque.

Van Anraat, o primeiro holandês da história a ser julgado por crimes desse tipo, pode pegar prisão perpétua se condenado. O julgamento deve começar ainda este ano.

Vítimas iranianas e iraquianas de ataques com armas químicas pretendem pedir indenizações individuais de até 10 mil euros dos acusados, disse um advogado do grupo antes da audiência.
Alguns curdos se reuniram diante do tribunal com uma faixa sobre o ataque de Halabja, que matou um número estimado de 5.000 pessoas.

– Foi uma página negra na história curda – disse Sherzad Rozbayani, integrante de uma associação estudantil curda.

As forças iraquianas atacaram Halabja depois da captura da cidade por soldados iranianos, que Bagdá considerou um ato de traição dos curdos locais. O ataque ganhou fama internacional quando o Irã convidou jornalistas estrangeiros a visitar a cidade arrasada, cheia de corpos.

Van Anraat foi preso pela primeira vez em Milão, em 1989, a pedido dos EUA, mas acabou libertado dois meses depois. Fugiu então para o Iraque, onde deve ter permanecido até a invasão de 2003, quando voltou para a Holanda através da Síria.

Foi preso por autoridades holandesas em sua casa, em dezembro, quando se preparava para deixar o país.

– As imagens do ataque a Halabja foram chocantes. Mas não dei a ordem para aquilo. Quantos produtos, como balas, produzimos aqui na Holanda? – disse ele numa entrevista de 2003 à revista holandesa Revu.