Há 30 anos, um outro 11 de setembro

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Publicado quarta-feira, 10 de setembro de 2003 as 21:04, por: CdB

O 30º aniversário do golpe militar no Chile, ocorrido em 11 de setembro de 1973, recorda não só a trágica derrota do Governo de Salvador Allende, mas também dos sonhos de milhares de chilenos que lutaram junto a ele por uma pátria melhor e mais democrática. O país passou por uma ditadura militar de 17 anos e 3.000 vítimas, onde 1.192 são desaparecidos.

Allende foi o primeiro marxista a eleger-se democraticamente como chefe de um país ocidental, ele acreditava profundamente na força da preservação dos valores e tradições democráticas. Era óbvio que um presidente socialista poderia significar mudanças não somente para seu povo, mas em todo um sistema.

A confabulação contra o Governo Socialista de Allende começou no dia seguinte da sua vitória democrática, em 4 de setembro de 1970. Os Estados Unidos lançaram suas reservas de cobre no mercado mundial, provocando uma crise no Chile, já que o cobre era o principal artigo de exportação do país. Dessa forma, o financiamento das reformas anunciadas pelo presidente eleito foi cortado. De concreto, ele realizou uma única reforma: todas as crianças chilenas passaram a receber meio litro de leite todos os dias, até completarem oito anos.

O Golpe

Às 6h30 da manhã, Allende foi acordado com um telefone de um funcionário do governo avisando que a Marinha havia se rebelado no Porto de Valparaíso, a 110 km de Santiago. O presidente logo partiu para o La Moneda, escoltado e levando um fuzil AK-47, presente de seu amigo Fidel Castro.

Enquanto Allende preparava a resistência, em outros lugares do Chile reinava a operação de rebelião organizada pelo general Augusto Pinochet, almirante José Toribio Merino, general de aviação, Gustavo Leig, além do chefe de polícia, César Mendoza.

Pinochet era um dos homens de confiança de Salvador Allende e chegou a orienta-lo para renunciar, contudo, a resposta foi negativa. O ataque a La Moneda teve início às 9:15 da manhã. Segundo o livro “El día que se murió Allende”, do jornalista Ignacio González Camus, o presidente, consciente da luta intensa que seria travada ali, escreveu uma mensagem e pediu para que seus assessores militares levassem aos rebeldes. “Diga a seus comandantes que não saio daqui e nem me entregarei. Não vou sair vivo daqui mesmo que bombardeiem o La Moneda. Vou matar-me”. Enquanto aviões sobrevoavam o palácio do governo, a mensagem do presidente era difundida em rádio. Ao meio dia, começaram os bombardeios contra o palácio. Allende abriu sua janela e gritou aos militares: Allende não se rende a milicos!

Depois dos gritos desafiantes do presidente, seus últimos combatentes entregaram-se aos militares rebeldes e foi, nesse momento, que se ouviu um disparo. O chefe de Estado do Chile estava morto. Em 1990, a tese de suicídio foi confirmada por sua filha, Isabel Allende, depois de acreditar por 17 anos que os militares haviam assassinado seu pai. Hoje, Isabel é presidente da Câmara de deputados do Chile. Richard Nixon, na época presidente dos Estados Unidos, apoiou logisticamente o golpe e festejou politicamente a ação golpista de Pinochet.

O papel dos Estados Unidos no Golpe

Em 1999, documentos norte americanos sobre o golpe foram desarquivados, ajudando a esclarecer a responsabilidade de Washington na derrocada de Salvador Allende. Os documentos revelaram as operações secretas da CIA no Chile, entre os anos 1962 e 1975. Os Estados Unidos realizaram operações com a intenção de que o líder marxista não fosse eleito, depois acionou outras operações com a intenção de desestabilizar seu governo e, finalmente, depois do golpe, apoiou a ditadura de Pinochet.

Os documentos provam que a CIA apoiou ativamente a Junta militar depois da queda de Allende. Também foi revelado que a mesma pagou 35.000 mil dólares a um grupo de militares do Chile, pelo assassinato de René Shneider, comandante chefe do Exército fiel a Allende, durante um golpe de estado fracass