Grupo Corpo contagia Nova York

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Publicado segunda-feira, 31 de outubro de 2005 as 08:54, por: CdB

O Grupo Corpo está conquistando o público de Nova York com suas energéticas, elegantes e sensuais coreografias, acompanhadas pela música de Ernesto Lecuona e Caetano Veloso.

Considerado um dos grupos de dança mais importantes do Brasil, o Grupo Corpo apresenta nos EUA Lecuona e Onqotô, coreografados por Rodrigo Pederneiras, como parte do festival anual Next Wave da Brooklyn Academy of Music.

Lecuona apresenta 12 casais, cada um dançando um tema romântico do célebre compositor e pianista cubano Ernesto Lecuona.

Os pares encarnam personalidades diferentes e usam uma cor de roupa cada um, como se fossem capítulos de uma história de amor.

Inspirado nos antigos bailes de salão, a peça tem como grande final uma valsa no qual seis casais, em que as mulheres se apresentam vestidas com trajes de tule branco, dançam dentro uma caixa de espelhos, o que cria um mágico efeito de multiplicação.

Como em muitos de seus trabalhos, Pederneiras apresenta em Lecuona uma eclética combinação de dança clássica, moderna e afro-americana, e explora as infinitas possibilidades do corpo e das relações entre os corpos dos dançarinos.

Nas 12 histórias de amor que compõem Lecuona, o coreógrafo oferece uma quase inesgotável combinação de movimentos que representam humor, divertimento, erotismo, paixão, desespero e violência.

Os corpos dos dançarinos se enrolam e desenrolam, saltam como molas, se atraem e se repulsam, se acariciam e se repelem em uma sucessão de exercícios de deslocamento, distensão e contorção que às vezes parecem impossíveis.

O segundo ato, Onqotô, é uma peça conceitualmente mais complexa e de conotações metafísicas, na qual Pederneiras e os autores da música propõem a exploração da herança cultural e lingüística do Brasil.

A coreografia foi criada para comemorar o 30º aniversário da companhia. Para isso, convidaram Caetano Veloso e José Miguel Wisnik para compor nove temas originais.

Para o desenvolvimento de Onqotô, o diretor artístico Paulo Pederneiras cria um sóbrio cenário circular feito com uma espécie de persiana preta pela qual os dançarinos aparecem e desaparecem quase imperceptivelmente.

Estas constantes entradas e saídas de cena são freqüentes nas coreografias de Pederneiras, que estão estruturadas como capítulos de um livro ou como um musical com vários atos.

No início de Onqotô, os dançarinos fluem em movimentos “mutantes”, se descompõem e se desintegram, e depois voltam a se reagrupar de forma orgânica, como nas microscópicas divisões celulares.

Neste número, as passagens dos dançarinos são exageradamente marcadas para produzir sons ao compasso das percussões do tema “Candeal”, que tem algo de primitivo, quase tribal, evocando a floresta amazônica e os ritmos afro-brasileiros.

Há muito trabalho de solo nesta coreografia, e seus momentos mais memoráveis ocorrem aí, com a representação de violentos e eróticos atos amorosos de dois casais e com o visceral solo de um dançarino, cujo corpo nu se transforma em uma estranha criatura que engatinha até chegar à beira do cenário.

Com trabalhos enérgicos e sensuais, o Grupo Corpo submerge o espectador em um festim visual que exalta as infinitas possibilidades do corpo em movimento, do virtuosismo, da precisão e da expressividade dos dançarinos.