‘Grito dos Excluídos’ protesta contra violência no país

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Publicado segunda-feira, 7 de setembro de 2015 as 18:24, por: CdB

Por Redação – do Rio de Janeiro e São Paulo:

Após o desfile militar do 7 de Setembro, movimentos sociais saíram em passeata pela Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, no 21º Grito dos Excluídos. A concentração começou às 9h na Rua Uruguaiana e a caminhada até a estátua de Zumbi dos Palmares partiu, por volta das 11h, com a participação de movimentos feministas, negros, indígena, de juventude, por moradia, educação, comunicação popular, sindicalistas, classistas e partidos de esquerda. Com a chuva, a passeata reuniu menos pessoas do que o costume, de acordo com os manifestantes.

Integrantes de movimentos sociais caminham na 21º marcha Grito dos Excluídos, após o desfile cívico-militar do 7 de setembro, na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro
Integrantes de movimentos sociais caminham na 21º marcha Grito dos Excluídos, após o desfile cívico-militar do 7 de setembro, na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro

O tema deste ano foi Que País é Este, Que Mata Gente, Que a Mídia Mente e Nos Consome. Segundo o diretor da Central de Movimentos Populares, um dos organizadores do Grito dos Excluídos, Marcelo Edmundo, a finalidade é discutir a violência, a repressão e a manipulação da informação pela mídia.

Edmundo conta que o Grito dos Excluídos surgiu como um contraponto ao “momento de ufanismo” da época dos militares.

– A gente está na rua desde então, a ideia do grito é mostrar o Brasil da miséria, o Brasil da necessidade, da falta de saúde, da falta de educação. Mostrar o que realmente esse país precisa e o que falta para a gente se transformar num grande país. Ele se transforma num grande país com saúde, com educação, com cultura, com lazer, com moradia, com reforma agrária, é assim que nós vamos nos tornar grandes – afirmou.

Edmundo reconhece que nessas duas décadas houve avanços sociais, porém, para ele, faltou uma reforma estrutural. “A direita, as elites daqui não suportam nem essas pequenas conquistas, quanto mais uma mudança mais estrutural, mais profunda que não só esse país, mas o mundo necessita.”

O professor Tarcísio Motta considera importante os movimentos sociais irem às ruas. “Mostrando e defendendo as pautas da reforma urbana, da reforma agrária, da auditoria na dívida pública, neste dia 7 de setembro, manter essas pautas vivas é a tarefa que eu acho que cabe a todo militante de esquerda neste país.”

A caminhada seguiu pacífica até o final e se dispersou por volta de meio-dia, no Monumento Zumbi dos Palmares. O único momento de tensão ocorreu quando o grupo passou em frente ao Comando Militar do Leste e um grupo de manifestantes favoráveis à volta dos militares ao poder gritava “Intervenção já”, ocupando a faixa lateral da Presidente Vargas, enquanto o Grito dos Excluídos passava pela faixa central cantando o Hino da Internacional Socialista. Não houve confronto.

Em São Paulo

O ato do Grito dos Excluídos, que ocorreu nesta segunda-feira, na Praça da Sé, Centro da capital paulista, lembrou as mortes ocorridas nas escadarias da catedral na última sexta-feira. Os participantes deram um abraço simbólico na igreja, onde ocorreu o fato, que teve como desfecho a morte de duas pessoas. Uma delas era o pedreiro Francisco Erasmo de Lima, de 61 anos, que tentou desarmar um homem que mantinha uma mulher refém, segundo informações da Polícia Militar. Inicialmente, o ato seguiria para a região da Luz, conhecida como cracolândia, mas, devido a chuva, a manifestação foi encerrada, por volta das 12h30, no mesmo local da concentração.

Paulo Pedrini, coordenador da Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo e integrante da coordenação estadual do Grito dos Excluídos, lembrou que o ato já estava marcado para a Praça da Sé, mas ganhou um simbolismo especial com o fato da última sexta-feira. “O rapaz morava aqui na praça, era um morador de rua, e acabou dando a vida para salvar alguém que nem conhecia. Um excluído que dá uma lição dessa para a sociedade”, disse. O ato, que ocorre tradicionalmente no 7 de Setembro, é organizado por pastorais sociais, movimentos populares e centrais sindicais.

Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral de Rua, chamou a atenção para a exploração midiática do fato.

– É a espetacularização da tragédia humana. O que se viu foi transformar isso em um espetáculo com a busca pela audiência”, avaliou. O papel da mídia faz parte do tema do Grito dos Excluídos deste ano Que País é Este, Que Mata Gente, Que a Mídia Mente e Nos Consome. Lancellotti criticou a abordagem da mídia em identificar bandidos e heróis nesta história. “Os dois são vítimas do mesmo sistema – destacou. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não deu informações sobre o andamento das investigações.

O ato na Praça da Sé começou às 9h com uma missa. Durante a Homilia, Dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, lembrou a situação de imigrantes e refugiados pelo mundo. “Temos que ter abertura para acolher aqueles que vivem situação de conflito que vêm em busca de paz”, declarou. Ele destacou que é preciso agir com solidariedade e trabalhar para que se estabeleça o diálogo e se supere o clima de guerra. A crise migratória e o papel dos brasileiros na recepção desses povos também são temas abordados nesta edição do Grito dos Excluídos, que completa 21 anos.

A irmã Margareth Silva, coordenadora do Centro Referência e Acolhida para Imigrantes, participa do ato os todos anos e reforça a necessidade de se construir um ambiente de solidariedade para acolhida de estrangeiros e para combater a xenofobia. “São pessoas excluídas do mundo, que já não tem uma pátria, paz, que são perseguidos religiosos, que não tem sequer uma língua, porque vão ter que adaptar a uma nova realidade”, disse. O centro é um equipamento da prefeitura de São Paulo, administrado Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras). Segundo Margareth, com um ano de funcionamento, pessoas de 35 nacionalidades passaram pelo centro – haitianos e sírios, na maioria.

Ana Caroline Garcia, da Rede Ecumênica de Juventude, participou do ato para reforçar a necessidade de política para os jovens e de ações de combate ao genocídio da juventude negra. “Faltam locais de lazer, educação de qualidade, políticas de participação”, afirmou. Em defesa da pauta dos trabalhadores, Edson Carneiro, conhecido como Índio, da Intersindical, destacou que as categorias precisam estar nas ruas, especialmente neste 7 de Setembro. “Na nossa opinião, não há independência política sem independência financeira. Vivemos em um país com muitas amarras com o sistema financeiro”, destacou.