Governo Uruguaio responderá a Argentina

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Publicado domingo, 18 de janeiro de 2004 as 13:57, por: CdB

O Governo uruguaio dará uma resposta “clara e oportuna” em torno das discrepâncias surgidas com seu homólogo argentino pelo caso da nora do poeta argentino Juan Gelman e dos uruguaios desaparecidos no vizinho país, afirmou o Ministério das Relações Exteriores.

As declarações do presidente argentino, Néstor Kircher, e de outras autoridades argentinas são acompanhadas “com toda a atenção que a situação requer”, acrescentou a chancelaria, em um comunicado emitido no sábado.

As declarações emitidas “a respeito do povo e do Governo do Uruguai” vêm sendo objeto “de uma pormenorizada avaliação”, assinalou o comunicado.

O presidente uruguaio, Jorge Batlle, e o chanceler, Didier Opertti, estão em “contato permanente.

O governante argentino disse no sábado em uma entrevista coletiva que o chefe de Estado uruguaio “deveria retificar” suas declarações sobre os desaparecidos uruguaios durante a última ditadura na Argentina.

Kircher qualificou de “exageradas” as declarações de Batlle, nas quais reclamou que o Governo argentino investigue a sorte de uns 80 uruguaios desaparecidos na Argentina durante o regime militar que governou nesse país entre 1976 e 1983.

Por sua vez, o chefe de Gabinete argentino, Alberto Fernández, afirmou no sábado que Batlle é “alguém que decidiu maltratar os argentinos” e que tenta “tirar sua responsabilidade por não investigar o que deveria”, em alusão ao desaparecimento no Uruguai de María Claudia Irureta Goyena de Gelman.

Na terça-feira passada o Governo argentino apresentou uma querela ante a justiça de seu país para que se investigue o desaparecimento da nora do poeta Juan Gelman, ocorrida em 1976 em Montevidéu, depois de ser detida ilegalmente em Buenos Aires com uma gravidez de sete meses.

Em sua querela, o Executivo argentino solicitou ao juiz Claudio Bonadío que citasse a declarar ao presidente uruguaio na condição de testemunha.

Posteriormente o chefe do gabinete qualificou as palavras do presidente uruguaio de “saída pouco feliz”, e disse que as pronunciou “tão só para desculpar a responsabilidade que lhe cabe na investigação do caso” da nora do poeta Juan Gelman, que vive no México.

Opertti e o chanceler argentino, Rafael Bielsa, tentaram na sexta -feira passada tirar pressão ao assunto, mas as águas voltaram a agitar-se quando o ministro argentino do Interior, Aníbal Fernández, disse que “é uma vergonha” que Batlle “se lembre alguns anos depois” dos uruguaios desaparecidos na Argentina durante a repressão.

O chefe de Estado uruguaio soube na quinta-feira que o Governo argentino pretendia que declarasse como testemunha na querela, enquanto regressava ao país desde Monterrey (México), depois de participar da cúpula extraordinária das a América, e ao ler os jornais argentinos em uma escala de seu vôo.

Visivelmente incomodado Batlle, durante uma entrevista no aeroporto depois de regressar a Montevidéu, disse que o Governo uruguaio proporcionou a seu homólogo argentino “absolutamente toda” a informação que obteve no caso da nora de Gelman, que a administração Kirchner considera “assunto de Estado”.

A Comissão para a Paz, criada por Batlle em 2000 para investigar os casos de detidos-desaparecidos durante o regime “de fato” no país, (1973-1985) chegou a conclusão que María Claudia García de Gelman foi assassinada, mas não consegiu determinar o destino de seus restos.