Governo russo é inocentado por massacre

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Publicado sexta-feira, 22 de dezembro de 2006 as 21:48, por: CdB

A comissão parlamentar que investiga o massacre na escola de Beslan, no qual 330 pessoas morreram, sendo que metade eram crianças, isentou nesta sexta-feira as forças de segurança russas de qualquer responsabilidade no incidente.

– A comissão, após consultar diversos especialistas e testemunhas, concluiu oficialmente que a culpa pelas explosões é dos terroristas que seqüestraram a escola em setembro de 2004 -, afirmou Alexandr Torshin, vice-presidente do Conselho da Federação Russa (Senado) e chefe
da comissão.

Num discurso no Senado, Torshin ressaltou que “um dos seqüestradores, atuando segundo um plano traçado anteriormente, ativou o explosivo caseiro colocado no ginásio” da escola número 1 de Beslan. Torshin disse que o episódio “tem sido utilizado pelos que querem culpar o governo central pela explosão”.

– Não houve invasão. A tarefa das forças de segurança era tirar as pessoas da escola. Não houve preparativo algum para uma invasão, embora, certamente, foi estudado um esquema de ação militar -, disse.

Alguns parentes das vítimas acusam as autoridades de “crime de Estado”. Para eles, as forças de segurança também foram responsáveis pelo massacre, por terem optado pela violência desde o início como única solução para o seqüestro.

Respondendo a uma pergunta de um senador, o chefe da comissão parlamentar disse que o comando operacional negociou com os terroristas, mas, “do outro lado, os negociadores não davam o braço a torcer”.

– Muitos terroristas buscavam a morte. As chances de sobrevivência dos reféns eram mínimas, mas, ainda assim, foi possível salvar a vida de 810 pessoas -, ressaltou.

Torshin disse que, ao contrário do que denunciam os parentes, as forças de segurança não dispunham de informação sobre um possível atentado terrorista em Beslan, localidade situada na república caucasiana da Ossétia do Norte.

A comissão responsabilizou pelo massacre o comandante da guerrilha chechena, Shamil Basayev, que reivindicou o seqüestro, e o ex-presidente da Chechênia independente, Aslan Maskhadov, ambos mortos pelas forças de segurança russas.

– O seqüestro foi planejado muito tempo antes de ser cometido pelos líderes da clandestinidade terrorista. Existem muitas provas que confirmam que o seqüestro foi preparado como um atentado suicida -, afirmou.

Torshin citou a participação da jornalista Anna Politkovskaya, que foi assassinada em outubro e, na época, foi quem entrou em contato com o representante da guerrilha, Ahmed Zakayev, exilado em Londres, para que tentasse negociar com os terroristas. Mas, segundo o chefe da comissão que investiga o caso, este teria se negado a colaborar.

O relatório da comissão concluiu que 32 terroristas participaram do seqüestro, dos quais o único sobrevivente foi Nurpasha Kulayev, condenado em maio à prisão perpétua. O chefe da comissão também negou que existam provas do emprego de lança-chamas e da artilharia dos carros de combate contra o edifício da escola enquanto os 1.128 reféns, em sua maioria mulheres e estudantes, estavam no interior do prédio.

As “Mães de Beslan” afirmam que a tragédia foi detonada pelo lança-chamas utilizado pelas forças de segurança contra a escola na operação de resgate, 52 horas após ela ter sido tomada por um comando checheno.

O conteúdo do relatório deveria ter sido publicado em setembro, mas um dos membros da comissão, o deputado Yuri Saveliev, apresentou um relatório alternativo sobre o massacre e a divulgação foi adiada.

Saveliev trouxe dados que contradiziam a versão oficial, nos quais indicava a participação de 70 terroristas no seqüestro e que a Polícia da Chechênia sabia dos planos da guerrilha com pelo menos três horas de antecedência.

Segundo as informações obtidas pelo deputado, a morte de um grande número de reféns foi uma conseqüência das explosões dos projéteis disparados pelas forças de segurança russas, enquanto várias pessoas morreram no fogo c