‘Gaijin – Ama-me como sou’ tem produção acima da média brasileira

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Publicado quinta-feira, 1 de setembro de 2005 as 14:08, por: CdB

Vencedor de quatro prêmios no Festival de Gramado deste ano, o novo filme de Tizuka Yamasaki, <i>Gaijin – Ama-me como sou</i>, é uma superprodução bastante acima do padrão médio do cinema brasileiro.

O filme tem grande orçamento – mais de 10 milhões de reais – grande qualidade técnica e um elenco internacional (o cubano Jorge Perugorría, de <i>Morango e chocolate</i>, e a norte-americana Tamlyn Tomita, de <i>O dia depois de amanhã</i>). A dramaturgia, no entanto, é simplificada como a das novelas.

Com essa receita, o filme busca o grande público e estréia nesta, sexta-feira, em todo o país, com 120 cópias.

Filmado em quatro semanas, em locações no Brasil e no Japão, o filme, que tira seu nome de uma canção do cubano Pablo Milanés, é muito bem-feito do ponto de vista técnico. Só na pós-produção, levou-se um ano. Fotografia e edição de som são pontos altos, bem como a cuidada cidade cenográfica que reproduz a Londrina do início do século 20, centro da história.

Três mil figurantes fizeram parte do elenco. O casting brasileiro inclui Mariana Ximenes (como uma imigrante alemã), Zezé Polessa, Dado Dolabella, Luis Mello e Louise Cardoso.

A primeira parte, na verdade, refaz o primeiro “Gaijin” (1980), filme que lançou o nome de Tizuka Yamasaki e também levou o prêmio principal no Festival de Gramado daquele ano, o que se repetiu agora.

Em 2005, o novo <i>Gaijin</i> levou também os troféus de melhor direção, música, para Egberto Gismonti, e atriz coadjuvante, para a estreante de 77 anos Aya Ohno, uma feirante de Londrina que só devia fazer figuração, mas conquistou o importante papel da “batyan” (avó).

<b>EPOPÉIA JAPONESA NO BRASIL</b>

O longa conta a trajetória de Titoe – interpretada pela protagonista do filme de 1980, a atriz japonesa Kyoko Tsukamoto – uma jovem imigrante japonesa que viaja para o Brasil no começo do século 20, em 1908.

Ela forma família em Londrina e seus descendentes passam as próximas décadas enfrentando os altos e baixos da economia e da política no Brasil.

Ou seja, o filme passa pela ditadura militar, redemocratização, confisco do Plano Collor, crises econômicas e o fenômeno dos “dekasseguis”, os netos e bisnetos dos primeiros japoneses, agora de volta ao Japão em busca de oportunidades, mas encontrando discriminação.

Em outras palavras, material suficiente para uma minissérie. Um dos problemas é que o filme é engolido por essa necessidade, um bocado artificial, de incluir tanta coisa.

Onde o filme mais erra, porém, é na dramaturgia – excessivamente melodramática. A direção de atores nunca foi o forte da diretora, uma falha que se repete aqui. Jorge Perugorría e Tamlyn Tomita são as maiores vítimas de um peso excessivo na dramaticidade. Os dois são prejudicados ainda mais pela obrigação de pronunciar as suas falas em português, para que fossem depois cobertas pela dublagem. A dublagem provoca um artificialismo que compromete a credibilidade do grande par romântico da história.

São estranhas no filme, também, algumas paisagens de outras localizações geográficas, como Foz do Iguaçu e Tocantins, aparentemente para seduzir possíveis espectadores internacionais -afinal, espera-se que o filme circule também em outros mercados.

Mas, para o público brasileiro, fica mesmo esquisito, já que a ação, no Brasil, se passa toda em torno de Londrina. Outro segmento foi filmado no Japão, na cidade de Kobe.