Fraude no vestibular atinge cerca de 30 faculdades

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Publicado segunda-feira, 13 de junho de 2005 as 10:23, por: CdB

A Polícia Civil do Distrito Federal descobriu que pelo menos 500 candidatos usaram métodos fraudulentos e passaram no vestibular, pagando entre R$ 8 mil e R$ 30 mil, para prestarem Medicina. O crime foi descoberto em 27 faculdades e 12 estados do Distrito Federal.
 
O engenheiro Jorge Nascimento Dutra, 44 anos, era o chefe da quadrilha que usava equipamentos eletrônicos para passar o resultado das provas aos vestibulandos, depois que integrantes do bando respondiam às questões e saíam da sala de exames. As investigações revelaram que Dutra tinha como aliado o técnico judiciário Hélio Ortiz, 51 anos, acusado de liderar a máfia brasiliense especializada em fraudar concursos públicos.
 
Para fraudar concursos, Dutra contaria com a ajuda de Ortiz, que sempre negou envolvimento com qualquer outro grupo criminoso. Mas grampos telefônicos feitos pela Polícia, durante investigação da máfia dos concursos, mostram um diálogo, entre Ortiz e o tenente Marcus da Cruz Guimarães, da Polícia Militar do DF, no dia 22 de fevereiro. A conversa revela a relação do homem apontado como o chefe da máfia dos concursos com Jorge Dutra.
 
Os policiais brasilienses descobriram que o Jorge Dutra teve o pedido de habeas corpus negado três vezes pelo STJ. A primeira, no dia 27 de fevereiro, pelo presidente do tribunal, Edson Vidigal. O segundo HC foi indeferido pelo ministro Sálvio de Figueiredo, no dia 5 de janeiro de 2005. O último, no dia 14 de fevereiro, pelo ministro Paulo Gallotti.

Depois de dez anos fraudando vestibulares de Medicina, a quadrilha liderada por Dutra preparava-se para entrar no ramo dos concursos públicos. Antes dos principais integrantes do bando serem presos, ano passado, policiais federais descobriram, por meio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, que eles armavam golpes para as seleções da Polícia Civil do DF, Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas e da própria PF.

Um vestibulando em especial que denunciou Jorge Dutra à Justiça daquele estado chamou a atenção do Marcus Vinícius Aguiar Macedo, procurador da República no Acre. Trata-se de Priscila Dias Dutra. Aluna do curso de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), ela é filha do engenheiro e afirmou que garantiu a vaga por meio de golpe comandado pelo pai, no vestibular de 2002.
 
A garota recebeu as respostas das questões por meio de um pager, que escondera sob a saia. Três homens contratados por Jorge fizeram o papel de “piloto”. Eles se inscreveram no vestibular apenas para resolver questões de matérias específicas, sair o mais cedo possível da sala e entregar as respostas a Jorge, do lado de fora.

A fraude na UnB foi confirmada por Alessandro Alves de Souza, que, em depoimento do dia 24 de junho de 2004, confessou ser peça importante da quadrilha, da qual fazia parte desde 1999.