França mergulha em violência após policial matar jovem de 17 anos

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Publicado quinta-feira, 29 de junho de 2023 as 10:46, por: CdB

Adolescente de origem norte-africana foi morto em controle de trânsito. Incidente provoca protestos e reacende debate sobre táticas policiais e racismo sistêmico nas forças de segurança do país.

Por Redação, com DW – de Paris

Ao menos 150 pessoas foram detidas na madrugada desta quinta-feira na França, na segunda noite de tumultos após a polícia ter matado um adolescente de 17 anos na cidade de Nanterre, nos arredores de Paris. Vários prédios públicos foram atacados por manifestantes, e carros e lixeiras foram incendiados.

Em Nanterre, manifestantes lançaram fogos de artifício contra policiais

– Uma noite de violência intolerável contra os símbolos da República: câmaras municipais, escolas e esquadras de polícia incendiadas ou atacadas. 150 pessoas detidas – escreveu o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, em sua conta no Twitter.

O ministro pediu ainda apoio às forças de segurança e aos bombeiros “que enfrentaram corajosamente o ataque” e se queixou dos incitadores dos atos.

A morte do jovem Nahel, de ascendência norte-africana, por um policial que alegou ter usado sua arma em legítima defesa, uma versão desmentida pelas imagens de vídeo do incidente, já tinha provocado tumultos na noite anterior, nos quais cerca de 30 pessoas foram detidas, aproximadamente 40 veículos foram incendiados, e 24 policiais ficaram feridos.

Em Nanterre, manifestantes mascarados lançaram fogos de artifício e rojões contra forças de segurança. Ataques semelhantes foram registrados em outras cidades do país. Nos subúrbios de Paris, foram ainda incendiados um ônibus e um bonde.

Morte de Nahel

O caso reacendeu o debate no país sobre táticas policiais criticadas por grupos de direitos humanos.Na manhã de terça-feira, Nahel dirigia, sem carteira de motorista, um carro esportivo amarelo alugado pelas ruas de Nanterre quando foi parado num controle de trânsito por dois policiais.

Inicialmente, a polícia informou que um agente atirou contra o jovem, pois ele teria avançado com o carro contra ele. No entanto, um vídeo gravado por uma testemunha desmente essa versão e mostra quando um dos agentes atira à queima-roupa contra o motorista após ele dar partida no veículo para tentar fugir.

Antes do disparo, as imagens mostram os policiais parados ao lado do carro, com um deles apontando uma arma para o motorista e se ouve: “Você vai levar um bala na cabeça”. O policial então parece atirar quando o carro arranca abruptamente.

O agente está sendo investigado por homicídio. Os promotores dizem que o rapaz não não cumpriu uma ordem para parar o carro.

Uma autópsia mostrou que Nahel foi morto por uma única bala que atravessou um de seus braços e o peito.

Grupos de direitos humanos alegam haver um racismo sistêmico dentro de agências de aplicação da lei na França, uma acusação refutada pelo presidente francês, Emmanuel Macron.

Macron convoca reunião de crise

O presidente francês convocou para esta quinta-feira uma reunião interministerial de crise. Ao abrir a reunião, Macron disse serem “injustificáveis” as “cenas de violência” contra as “instituições da República” e pediu “meditação e respeito”.

A onda de violência é preocupante para Macron, que tenta superar um ano e meio de protestos que eclodiram devido à sua polêmica reforma previdenciária.

Os distúrbios se multiplicaram em França desde a morte de Nael. Apesar do epicentro ser em Nanterre, houve tumultos em vários pontos da capital e também em outras grandes cidades como Lyon (sudeste) e Toulouse (sudoeste).

Na quarta-feira, após a primeira noite de incidentes violentos, concentrados principalmente em Nanterre e noutras zonas suburbanas de Paris, Macron e vários membros do seu gabinete apelaram à calma e expressaram solidariedade para com a família de Nael, sublinhando que a sua morte é “inexplicável e indesculpável”.

O incidente alimentou as queixas de longa data de violência policial contra a população de baixa renda e miscigenada que habita os subúrbios das principais cidades da França. No ano passado, 13 pessoas foram mortas no país por se recusarem a parar em controles de trânsito. Em 2017, uma mudança na lei deu maiores poderes aos policiais para usarem suas armas.

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