Filme sobre pedofilia encerra competição principal de Berlim

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Publicado sábado, 19 de fevereiro de 2005 as 15:29, por: CdB

Um filme dinamarquês perturbador sobre um homem acusado de pedofilia e incesto encerrou a competição principal do Festival de Cinema de Berlim, na sexta-feira, encaixando-se muito bem numa programação que não tentou fugir de temas dolorosos.

Entre os principais candidatos ao prêmio máximo de melhor filme, a ser anunciado no sábado, estão trabalhos sobre o genocídio de 1994 em Ruanda, sobre amigos palestinos que planejam um atentado suicida em Tel Aviv e sobre o interrogatório de uma mulher que opôs resistência aos nazistas.

Os críticos não têm admirado muito a qualidade dos filmes vistos em Berlim este ano, mas os temas tratados vêm suscitando discussões acaloradas. “Anklaget”, um trabalho chocante do diretor Jacob Thuesen, não deve ser exceção.

O filme mostra um homem que é acusado por sua filha de 14 anos de ter tido relações sexuais com ela três ou quatro anos antes. Ele é preso, passa por um julgamento no qual é inocentado e enfrenta a desconfiança de amigos e de desconhecidos.

O público fica até o final do filme sem saber se Henrik é culpado ou inocente. Thuesen disse que seu filme trata menos da culpa e mais da desconfiança.

“A culpa ou não do personagem principal não me interessa tanto quanto a idéia de ele ser preso em seu trabalho e da desconfiança suscitada nas outras pessoas”, disse o diretor aos jornalistas em Berlim

Não foi o único encontro da Berlinale com o tema delicado do incesto e da pedofilia.

Rebecca Miller, que dirigiu seu marido, Daniel Day-Lewis, em “The Ballad of Jack & Rose”, contou que uma razão pela qual seu filme demorou tanto a encontrar financiamento foi que ele deixa subentendida a existência de um amor incestuoso entre um pai e sua filha.

Entre os favoritos para o prêmio máximo do Festival de Berlim estão “Sometimes in April”, sobre o genocídio em Ruanda, e “Sophie Scholl — The Final Days”, sobre o interrogatório de uma heroína da resistência alemã durante a 2a Guerra Mundial.

Outro que está sendo bem cotado é “Paradise Now”, filme rodado principalmente em Nablus sobre dois jovens palestinos que planejam um atentado suicida contra soldados israelenses.

“The Last Mitterrand”, sobre os últimos meses de vida do presidente francês, “The Hidden Blade”, um filme japonês ambientado no século 19, e “The Sun”, sobre a decisão do imperador japonês Hirohito de renunciar a seu status divino, também são vistos como candidatos com chances de ganhar.

Para o crítico Peter Twiehaus, da emissora pública alemã ZDF, “‘Sometimes in April’ foi sem dúvida o melhor filme do festival.”

“Foi o tipo de filme político que Berlim adora.”

Os jornalistas presentes ficaram visivelmente abalados depois de assistir às cenas de massacre que fazem de “Sometimes in April” uma versão muito mais explícita dos horrores de 1994 do que é “Hotel Rwanda”, também exibido em Berlim e que recebeu três indicações ao Oscar.

Ainda nesta sexta-feira está prevista a chegada a Berlim do ator Will Smith para acompanhar a exibição de seu sucesso de bilheterias “Hitch — Conselheiro Amoroso”. O ator também foi ao Rio de Janeiro, no Carnaval, promover o longa-metragem, que estréia no Brasil na sexta.