Festa na Casa Grande

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Publicado quinta-feira, 9 de junho de 2005 as 11:26, por: CdB

A única saída é a ofensiva. Mas para tomar a ofensiva, o Presidente precisa ser técnico, zagueiro, líbero, armador, ponta (esquerdo) e centro-avante goleador. Precisa primeiro deixar claro que quem manda no time é ele.`Presidente: seja Presidente. Como dizia Fernando Pessoa, “é a hora”.


Está tudo pronto: os espumantes já estão na geladeira, os convivas alertados, as comidas em preparo e os olhos já estão umedecidos pela expectativa do botim que se anuncia. Os da Senzala que se preparem. É a anunciada Festa na Casa Grande, para logo depois que a direita reconquistar o Palácio do Planalto e o que interessa, o Ministério da Fazenda, pois afinal, “o que o Brasil precisa mesmo é de um gerente”. Traduzindo: o Brasil, na sua melhor tradição, precisa de um feitor, que volte a por os capitães de mato na rua, e assegure que dinheiros vitais para privatização na ciranda financeira não sejam “desviados” para finalidades sociais ou de investimento.

O roteiro vem sendo traçado dia após dia e semana após semana na imprensa escrita. É mais ou menos assim:

1) O PT é um partido ingovernável e ingovernante, pois padece de esquizofrenia congênita. Faz bem o que herdou do governo anterior, à direita, isto é, gere a política econômica em favor do capital rentista. Mas as ameaças “populistas” de fazer avançar políticas sociais e de redistribuição indireta de renda através da ação pública, que vem de seu legado esquerdista, precisam ser neutralizadas, porque estão fazendo os da Senzala erguerem demais os pensamentos.
2) Como isso não pode ser dito assim, ajeita-se a retórica para os discursos. Primeiro, o PT tem uma concepção superada de Estado. O PT “incha” o Estado, cobra impostos excessivamente. Ainda na retórica da esquizofrenia, o PT no poder desarticula o Estado, porque sequer consegue administrar com eficácia as licitações informais de cargos, prebendas e sinecuras em troca de favores, agindo como açougueiros onde outros, mais treinados, agem como cirurgiões. O PT é ineficiente em tudo.
3) Para a Casa Grande conquistar os votos do Condomínio da Classe Média, é necessário um bom discurso sobre corrupção. Como não deu ainda nem provavelmente dará para atingir diretamente a figura do Presidente, tomam-se exemplos nas bordas, como o caso no Correio, e mancha-se o Primeiro Magistrado pela pecha da inação, ou pela proteção a falsos amigos, como este Roberto Jefferson declarado amigo do peito num dia e autor de graves denúncias uma semana depois sobre mesadas pagas pelo tesoureiro do PT a deputados de outros partidos. Ou seja, não se conseguindo taxar o Presidente de corrupto, taxa-se de ridículo, inepto, inapto, frouxo, etc.
4) Nada do que o PT e seu governo fazem dá certo. Se a economia cresceu, é necessário dizer e gravar nas memórias que ela já vai “desacelerando”. Se o governo marca indeléveis gols para o Brasil na política externa, é conveniente apontar que isso, esse “protagonismo”, fragiliza a América do Sul (que, aliás, está em polvorosa em toda a parte), e que esse governo está portanto comprometendo relações tradicionais em troca de nada. Se a Polícia Federal está investigando e prendendo corruptos como nunca, trata-se logo de grudar a pecha de que informar tal coisa à população é querer “politizar” a ação policial ou coisa que o valha, e por aí se vai.
5) Tudo o que a ditadura deixou de herança no Congresso (como a compra e venda de favores) e tudo o que o neo-liberalismo empurrou garganta abaixo e acima do povo brasileiro, é agora culpa do PT. O PT é o culpado pela Câmara Federal ter o presidente que tem, e não o PSDB e o PFL, que votaram nele. O PT passa a ser o responsável pela pobreza histórica de nossas políticas sociais, pobreza essa que ele mesmo está revertendo, mas isso não se reconhece nunca.

Ao contrário, neoliberais de ontem agora se convertem a uma cartilha social que nunca viram nem mais gorda nem mais magra e vituperam o PT no governo por uma suposta aplicação de