Famílias de desaparecidos elogiam decisão de Lula

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Publicado sexta-feira, 15 de agosto de 2003 as 00:37, por: CdB

As famílias de centenas de pessoas que desapareceram durante o regime militar elogiaram na última quinta-feira a decisão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva de reiniciar as buscas pelos corpos.
 
No primeiro encontro da renovada Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, eles disseram esperar que os políticos de esquerda que hoje ocupam o governo ajudem a esclarecer o destino de seus companheiros.

– Acho que vamos conseguir as respostas, porque eles (do governo) passaram pelo mesmo que nós – disse Honorian Maria Dias Batista, que teve uma filha de 15 anos desaparecida em 1970.

Vários ministros brasileiros atuaram politicamente, durante a ditadura, ao lado dos cerca de 400 militantes que foram mortos, torturados e seqüestrados naquela época. O próprio presidente Lula, então sindicalista, chegou a ser preso sob a Lei de Segurança Nacional, e seu chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi exilado em Cuba, onde recebeu treinamento de guerrilha.

O secretário nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, disse que os brasileiros não devem ter expectativas irrealistas quanto a Lula ou à comissão.
 
– Há dificuldades, há um pacto de silêncio a respeito disso – disse Miranda, que passou três anos como preso político.

Criada em 1996, no governo de Fernando Henrique Cardoso, a comissão só descobriu o destino de três desaparecidos. O objetivo dos políticos e ativistas que a compõem agora é encontrar mais corpos e mudar a lei de forma a garantir indenizações a mais parentes das vítimas.

– Vários órgãos do governo tem gente que estava na mesma luta política dos que desapareceram. Isso será um fator que vai ajudar – disse o advogado Luís Francisco de Carvalho Filho, presidente da comissão, após a primeira reunião do grupo em sete meses de governo Lula.

Apesar do trauma para as famílias, a ditadura brasileira é considerada muito mais branda que as outras que governavam o continente na mesma época. Por outro lado, grupos de direitos humanos dizem que o governo da época treinou pessoas no Chile e na Argentina para que matassem milhares de opositores.