Falar de saúde, educação e segurança não é programa de governo

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado terça-feira, 22 de agosto de 2006 as 11:06, por: CdB

Sempre que começa uma campanha eleitoral, a imprensa, as páginas de notícias da internet e o horário eleitoral arvoram-se em procurar detalhar o “programa” dos diversos candidatos. Por programa entende-se, nestes casos, o que cada um fará nas áreas mais sensíveis da administração pública, como saúde, educação, transportes, segurança etc. etc. Todos têm propostas para tudo.

Funciona mais ou menos assim. Na saúde teremos policlínicas integradas com pronto-socorro vinculado à pediatria computadorizada, que alimentará um banco de dados centralizado com o objetivo de cruzar os diagnósticos de toda a cidade, fornecendo assim toda a informação necessária ao tratamento preventivo de várias enfermidades. Ou ainda unidades móveis de atendimento, para recuperar o conceito do médico de família, com atenção personalizada em qualquer região. Na educação, a progressão descontinuada, somada aos modernos métodos de avaliação e pontuação, aliados à cursos de informática e gerenciamento de merenda facultarão a cada estudante a bolsa-escola, a bolsa creche, a bolsa-família e a bolsa-bolsa. Para a área de transportes, nossa proposta é realmente revolucionária. Vamos colocar os carros circulando nos túneis do metrô, onde não há trânsito e vamos colocar o metrô – que sabidamente alivia o tráfego – nas ruas, para reduzir o número de veículos em circulação. Etc. etc. etc….

Parece que isso tudo é programa, mas não é. Apresenta-se ao eleitor um rosário de pequenas idéias engenhosas e o cidadão acha que estão ali, na sua frente, discutindo projetos para sua cidade e seu país. Não estão.

O essencial é invisível aos ouvidos
A melhor maneira de se evitar falar do essencial não é ficar quieto. É falar de tudo o que é secundário, sem estabelecer ligações e conexões entre as coisas. Tudo é verdade, policlínicas são legais, metrô desafoga trânsito e escolas modernas apresentam vantagens. Mas são idéias parciais, meias-idéias, que parecem viáveis. Basta estilhaçar as informações e apresentá-las como se não fizessem parte do mesmo planeta ou cidade, para desorientar qualquer um. Não há interesses a serem contrariados ou favorecidos. Como são sugestões soltas, volta e meia aparece um candidato alegando ter sido plagiado por outro. O que se apresenta como programa político não é programa e muito menos é algo político. É aplicar a marquetagem com o propósito de entreter o público, enquanto os negócios seguem em frente.

O debate sobre segurança pública é, de todos, talvez o que mais se ressinta dos males da fragmentação. O país vive uma situação de caos na área e os programas das candidaturas, com poucas exceções, não passam da cantilena de “leis mais duras”, “mais energia”, “mais presídios”, “rota na rua” e lorotas do tipo. Não se faz uma ligação com o fato do país não crescer há 25 anos, com uma das piores distribuições de renda e de riqueza do mundo e incapaz de gerar empregos suficientes para absorver a juventude que ano a ano chega ao mercado de trabalho.

Haverá dinheiro para cumprir tais e quais promessas? Mantida a atual lógica de financiamento do Estado, é claro que não. Com a ditadura das sucessivas equipes econômicas sobre o orçamento público, não há como criar novos programas ou realizar ações prometidas em campanha.

O irônico é que o financiamento é justamente o ponto cego das campanhas. Para responder à pergunta “de onde virá o dinheiro?”, é preciso discutir economia e política econômica. Sobre isso, a maioria dos candidatos silencia (justiça seja feita, o segundo programa eleitoral de televisão da senadora Heloísa Helena foi todo dedicado ao tema).
De nada adianta prometer, se 40% do orçamento público é anualmente seqüestrado para a consolidação do superávit primário, que garante a rentabilidade dos títulos da dívida pública para os especuladores de pequeno e de grande calado. Os caminhos e descaminhos dessa enormidade de dinheiro que, somado aos pagamentos de juros e serviços da dívida financeira, cheg