Fábrica de bandidos?

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Publicado sábado, 16 de setembro de 2006 as 10:47, por: CdB

A irremediavelmente morna campanha para o Governo do Rio de Janeiro vive esta semana um raro momento de polêmica. Tudo por conta da reação indignada do comando da Polícia Militar a algumas declarações feitas pelo candidato da frente Um Rio para Todos (PT-PSB-PCdoB), Vladimir Palmeira, durante sabatina realizada por jornalistas de O Globo na tarde de segunda-feira (11). Ao responder perguntas sobre segurança pública, Vladimir afirmou, entre outras coisas, que a PM do Rio é “uma fábrica de bandido” e que os policiais da instituição “vivem de extorsão”. Apesar de o candidato petista ter ressaltado o fato de estar se referindo aos “maus policiais” e não ao conjunto da corporação, suas declarações tiveram no comando da tropa um efeito pior do que as granadas lançadas pelos traficantes.

As palavras de Vladimir Palmeira que causaram tanta indignação na cúpula da PM fluminense surgiram na resposta a uma pergunta que se referia ao “poder paralelo” do tráfico: “No Rio, o crime é aberto. A ilegalidade campeia. Havia 8,5 mil policiais militares no Rio. Garotinho aumentou para 20 mil PMs. E o louco do Sérgio Cabral disse que vai aumentar mais 20 mil. Aquilo é uma fábrica de bandido. Temos que ter uma polícia de qualidade. Eles vivem de extorsão. Quem leva a arma para a favela?”, indagou o petista, depois de afirmar que o crime no Rio tem que, pelo menos, “voltar a ser clandestino”.

Logo no dia seguinte, o Comando Geral da PM divulgou nota onde afirma que enviou cópia da entrevista de Vladimir à Procuradoria Geral do Estado e que estuda meios de acionar o candidato na Justiça. A nota afirma que “a Polícia Militar repudia veementemente, mais uma vez, as declarações irresponsáveis e descabidas do senhor candidato” e que “despreza esse tipo de comportamento de figura pública”. Em carta enviada à imprensa e assinada pelo major Renato Junqueira Thomaz, assistente jurídico do Comando Geral, a direção da PM voltou a manifestar seu repúdio ao candidato e atacou o PT: “Ao se verificar os recentes escândalos tão noticiados _ mensaleiros, sanguessugas e vampiros _ resta-nos uma pergunta: onde estão as verdadeiras fábricas de bandidos?”.

As declarações de Vladimir foram mesmo fortes, mas será que ele falou algum disparate? É claro que não, pois quem nasceu ou vive no Rio real tem tanto medo da PM quanto dos bandidos! Todo o estado, sobretudo a capital, conhece a rotina de achaques, truculência e falta de preparo dos homens de azul. Quem vive no Rio e não é ruim da cabeça ou doente do pé conhece a fúria da máquina arrecadadora que percorre as ruas em busca de um carro sem documento, uma situação constrangedora ou um porte de drogas que possa ser transformado em grana viva e imediata nas centenas de “blitzes não autorizadas”. A sensação da população é de que a PM está muito mais empenhada em “levar sua parte” no transporte ilegal, na prostituição e até mesmo no tráfico de drogas do que em prender bandidos ou colaborar satisfatoriamente para acabar com a insegurança que vem destruindo progressivamente o Rio.

Existem policiais militares honestos? É claro, eu mesmo conheço vários, mas, como dizia um amigo meu, se trata de “ampla minoria” numa instituição que está corrompida em sua raiz. Entre as muitas mazelas que os oito anos de governo de Anthony Garotinho e Rosinha Matheus trouxeram ao Rio, a pior talvez seja o estado em que deixam a PM. Nas ruas, a conivência com o crime aliada à extrema brutalidade no trato com a população das favelas e bairros mais pobres. Nos gabinetes e comandos de batalhão, nomeações feitas a partir de obscuros critérios políticos ditados por deputados (muitos deles envolvidos em irregularidades) e outros aliados do Palácio Guanabara.

Mesmo tendo errado nos números (a PM do Rio tem, na verdade, cerca de 14 mil homens), Vladimir está certo ao criticar “o louco do Sérgio Cabral” quando o candidato da situação diz que vai contratar mais 20 mil PMs. O principal problema da PM não