Exposição reúne obras mais antibelicista de Picasso

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado terça-feira, 25 de maio de 2004 as 14:44, por: CdB

Um total de 367 obras entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, cerâmicas e cartazes de Picasso se exibem  na cidade espanhola de Barcelona, para ilustrar os anos nos quais o pintor espanhol se fez eco do horror das guerras, entre as décadas de 30 e 60.

A mostra, que se emoldura no Fórum Universal das Culturas, faz especial insistência nos anos da Guerra Civil espanhola (1936-1939), quando Picasso recebeu a encomenda do governo da República de pintar o “Guernica” para o Pavilhão espanhol da Exposição Internacional de Paris em 1937 e todas as obras que giram em torno desta pintura emblemática do sofrimento humano.

Ante a ausência do “Guernica”, na exposição se podem contemplar algumas das obras desta época, que anuncia figuras que recolherá o “Guernica”.

Entre elas estão “Minotauromaquia” (1935), “Sonho e mentira de Franco I e II” (1937), “Construção sobre tela” (1938), “Retrato de Marie-Therese” (1939), “Retrato de Dora Maar” (1939) e as tavernas “Paleta, castiçal e cabeça de minotauro” (1938) e “Castiçal, paleta e cabeça de touro negro” (1938).

Também se mostram algumas das fotografias que Dora Maar fez para documentar o processo de criação do “Guernica”, o carteira de Picasso para trabalhar na Exposição Internacional de Paris e uma carta na qual se agradece ao pintor a doação de 100.000 francos para enviar leite às colônias infantis em 1938.

Em seguida o visitante pode ver quatro filmes: “Incontrare Picasso” (1954), de Luciano Emmer; “Guernica” (1949-50), de Alain Resnais e Robert Hessens; “Guernica em chamas” (1979), de Francesc Ribera Raichs, e “Bombardeio de Guernica”, produzido pela cadeia televisiva basca Euskal Telebista a partir das imagens filmadas pela Legião Condor.

A comissariada da mostra, María Teresa Ocaña, lembrou hoje durante a apresentação que “Picasso construiu os dois símbolos mais relevantes da guerra e da paz: o ‘Guernica’ e a pomba”, convertidos em ícones da paz no século XX.

À margem de ocasiões contadas, Picasso não fez uma crônica dos eventos bélicos, mas “a guerra está presente em suas pinturas”, comentou Ocaña.

As representações femininas, essencialmente das duas modelos que ocupam a vida e a obra picassiana desses anos, são também veículo para colocar através de sua pintura sua denúncia e seu estado de ânimo.

Assim, precisou Ocaña, “a série de ‘Mulheres chorando’ que encarna Dora Maar, a modo de póst-scripte do ‘Guernica’, constitui um prolongamento da dor das mulheres espanholas ante a crueldade da guerra e, em paralelo, Marie-Therese Walter representa mais uma vez a luz da tranquilidade e da paz”.

O final da Guerra Civil espanhola e o início da Segunda Guerra Mundial desencadeou no artista um estado de ânimo que se materializa em uma série de símbolos como os crânios e as caveiras e que culminam com a peça escultórica “Cabeza de morto” (1943).

Na exposição se exibem, além disso, numerosos desenhos feitos na ateliê de Antibes, nos quais a coruja ganha especial protagonismo; o quadro “Massacres em Coréia” (1951), que lembra a “Os fuzilamentos de maio” de Goya, e “O rapto das sabinas”, uma reação à crise dos mísseis entre EUA, URSS e Cuba de 1962 inspirada na obra homônima de Poussin e David.

Na mostra, que estará aberta até o próximo dia 26 de setembro, se inclui uma reprodução da capela laica Guerra e Paz de Vallauris, com a superposição de uma filmagem de como Picasso pintou estes afrescos.

Também há uma cópia holográfica de “O homem do cordeiro”, escultura de grandes dimensões que não pôde viajar até Barcelona e na qual o pintor retoma a imagem clássica do Bom Pastor e a converte em uma declaração da luta pela paz.

O percurso se fecha com uma série de cartazes que o pintor criou para os congressos da Paz celebrados em Wroclaw, Paris e Londres entre 1948 e 1950, que mostram ao Picasso mais ativista.