O Exército dos Estados Unidos defendeu, na última terça-feira, o seu plano de mobilizar compulsoriamente cerca de 5,6 mil soldados que estão na reserva ou que foram desligados da corporação. Para os militares, a medida não é nova nem incomum. Críticos dizem que ela prejudica o conceito de que as Forças Armadas devem ser totalmente formadas por voluntários. O anúncio dos reservistas deve ser feito nesta quarta-feira.
Os soldados serão chamados entre os 111 mil reservistas que podem ser convocados em um prazo de oito anos após o fim de seu compromisso voluntário nos quartéis. Fontes militares dizem que esses soldados serão enviados neste ano ao Iraque e ao Afeganistão, onde preencherão funções específicas, de policiamento e contato com civis, que se encontram descobertas.
– É uma ferramenta gerencial que sempre tivemos disponível para aumentar nossas forças quando precisamos de pessoal adicional em uma época de guerra. Isso não é nada novo nem incomum – disse a tenente-coronel Pamela Hart, porta-voz do Pentágono.
A medida é mais um sintoma da dificuldade que o Pentágono tem para manter a enorme presença de 138 mil militares no Iraque até o final de 2005, em meio a uma insurgência cuja tenacidade apanhou as autoridades desprevenidas.
Hart disse que a última mobilização involuntária aconteceu durante a Guerra do Golfo, em 1991. Antes disso, ela ocorrera em 1968, na Guerra do Vietnã.
O Exército já havia anunciado anteriormente que impediria dezenas de milhares de soldados designados para servir no Iraque e no Afeganistão de abandonarem o serviço militar quando o seu prazo voluntário chegasse ao final. Em alguns casos, os soldados podem ter de permanecer no Exército por até 18 meses a mais do que o previsto.
Rand Beers, assessor de segurança nacional do candidato democrata ao governo, John Kerry, disse que a convocação obrigatória de reservistas é ‘resultado direto do fracasso diplomático do governo Bush em conseguir uma verdadeira ajuda internacional no Iraque’. Kerry já havia se referido à medida como ‘um recrutamento pela porta dos fundos’. Para Beers, a decisão mostra que essa porta dos fundos está ‘escancarada’.
A deputada democrata Ellen Tauscher, da Comissão de Serviços Armados da Câmara, disse que a convocação de reservistas é ‘um passo perigoso, que pode nos deixar perto de quebrar os nossos militares’.
Os Estados Unidos acabaram com o serviço militar obrigatório há 30 anos. Para Andew Bacevich, coronel da reserva e hoje professor de Relações Internacionais na Universidade de Boston, a convocação mostra que o Exército está deixando de ser apenas para voluntários, já que não dá conta de suas missões.
– Essa gente (os reservistas) estava acostumada a ser soldado, mas não está mais. O contrato informal – o que os soldados entendem, apesar do que tenham na verdade assinado – é o de que eu (um soldado) me voluntariei por um certo período. E uma vez que esse período terminou, então a escolha volta para mim, para decidir se continuo o meu serviço ou se prefiro sair. O que o governo Bush está fazendo é simplesmente rasgar esse contrato informal – disse Bacevich.
Para Bacevich, os atuais militares podem se sentir tratados injustamente, e futuros voluntários devem pensar duas vezes.
O grupo que pode ser convocado agora é chamado de Reserva Individual de Prontidão, composto por soldados que já não participam mais de treinamentos. Existe também a Reserva do Exército, já mobilizada, formada por militares com meias jornadas nos quartéis e treinamentos eventuais, nos fins-de-semana ou no verão, por exemplo.
Exército dos EUA defende mobilização não-voluntária
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Publicado quarta-feira, 30 de junho de 2004 as 03:07, por: CdB