O ex-primeiro-ministro de Kosovo, Ramush Haradinaj, se entregou ao tribunal de Haia, da ONU, na quarta-feira, um dia depois de renunciar ao cargo.
Com a mulher ao seu lado, o ex-líder rebelde albanês deu adeus a 200 pessoas que gritavam seu nome e embarcou num avião militar alemão no aeroporto de Slatina, em Kosovo, para seguir para a Holanda, onde será julgado por crimes de guerra.
– Muito obrigado por terem vindo. Adeus – disse o ex-rebelde de 36 anos.
Haradinaj é o ex-guerrilheiro de mais alto escalão de Kosovo a ser indiciado pelo tribunal da Organização das Nações Unidas, em Haia, por supostas atrocidades cometidas na guerra separatista de 1998-99 contra as forças sérvias. Ele é considerado um herói por muitos albaneses de Kosovo.
O indiciamento contra Haradinaj está sob segredo de Justiça, mas informações da imprensa dão conta de que ele cita os assassinatos de sérvios e de colaboradores albaneses.
O tribunal confirmou a chegada de Haradinaj a sua unidade de detenção.
Haradinaj também é o primeiro chefe de governo, desde o presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, a ser indiciado pelo Tribunal Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia. Milosevic está sendo julgado em Haia desde 2002.
Soldados britânicos em jipes blindados, reforçando a força de paz da Otan, fizeram a segurança nos maiores cruzamentos do trajeto desde a casa de Haradinaj, na capital, Pristina, até o aeroporto, temendo que sua partida desse origem a protestos violentos.
Sua ex-zona de comando, em Kosovo ocidental, estava quieta durante a noite, com alguns protestos pacíficos de estudantes. Integrantes alemães das forças de paz, responsáveis pela área, estabeleceram postos de controle e tomaram “medidas extras de segurança”, afirmaram uma fonte da Otan e testemunhas.
Ex-segurança de casas noturnas na Suíça, Haradinaj coroou sua carreira política no final de 2004, ao ser nomeado primeiro-ministro de Kosovo, a província da Sérvia que é administrada pela ONU e que deve realizar negociações de independência este ano.
Kosovo vem sendo administrado pela ONU desde o bombardeio da Otan, que durou 11 semanas e que expulsou as forças sérvias em 1999. A vitória do Exército de Libertação de Kosovo (KLA) foi manchada, porém, por ataques vingativos que provocaram a fuga de até 200 mil civis sérvios.
Haradinaj, ex-comandante regional do KLA, pediu aos kosovares que mantenham de pé sua luta pela independência, como deseja a maioria albanesa, de quase 2 milhões de pessoas.
Ele esperava estar à frente das negociações, mas foi elogiado pela ONU, pela Otan e pela UE por sua decisão de deixar o posto imediatamente depois de ser indiciado, para se submeter ao julgamento.