Ex-ministro Geddel Vieira Lima é preso por tentar atrapalhar investigações

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Publicado terça-feira, 4 de julho de 2017 as 10:48, por: CdB

A prisão do ex-ministro Geddel é preventiva e tem como base os depoimentos do operador financeiro Lúcio Funaro, do executivo da JBS Joesley Batista

Por Redação, com Reuters – de Brasília:

O ex-ministro Geddel Vieira Lima foi preso pela Polícia Federal em Salvador, por decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira do Tribunal Regional Federal, em Brasília, dentro da operação Cui Bono, que investiga irregularidades na Caixa Econômica Federal.

Ex-ministro Geddel Vieira Lima

De acordo com o Ministério Público Federal, a decisão foi tomada a pedido da Polícia Federal e da força tarefa da operação Greenfield. Também responsável pela Cui Bono, que investiga Geddel por liberações fraudulentas de recursos quando era vice-presidente de pessoa jurídica do banco. Geddel é acusado de tentar interferir nas investigações.

A prisão do ex-ministro Geddel é preventiva e tem como base os depoimentos do operador financeiro Lúcio Funaro, do executivo da JBS Joesley Batista e do diretor jurídico do grupo J&F, Francisco de Assis e Silva.

– No pedido enviado à Justiça, os autores afirmaram que o político tem agido para atrapalhar as investigações. O objetivo de Geddel seria evitar que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. O próprio Lúcio Funaro firmem acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF). Para isso, tem atuado no sentido de assegurar que ambos recebam vantagens indevidas. Além de ‘monitorar’ o comportamento do doleiro para constrangê-lo a não fechar o acordo – disse o MP em nota.

Em sua decisão, Vallisney fundamentou a prisão preventiva em três aspectos principais.

J&F

O primeiro refere-se ao fato de que, mesmo fora da Caixa, Geddel continuou a ter influência no banco. Tendo prosseguido em “negociações ilícitas” nele. O segundo está relacionado ao pagamento de R$ 20 milhões feitos por Lúcio Funaro a Geddel, a pedido de Joesley Batista da J&F.

O terceiro ponto, classificado pelo juiz de “fundamental” e “gravíssimo”. Refere-se às sondagens que ele fez à mulher de Funaro. A fim de saber se ele iria fechar uma delação premiada.

Geddel é acusado, na operação Cui Bono, de agir para garantir a liberação de recursos da Caixa em troca de propinas. Em um esquema que envolveria também o deputado cassado Eduardo Cunha. Além do próprio Funaro e do ex-vice-presidente da Caixa Fabio Cleto.

Em seu depoimento à Polícia Federal, há duas semanas. Dentro do processo que investiga o presidente de facto da República, Michel Temer, por obstrução à Justiça. Funaro afirmou que Geddel procurou sua mulher, Raquel, várias vezes depois da divulgação de que os donos da JBS, Joesley e Wesley Batista. Haviam feito um acordo de delação premiada.

Geddel, que aparece com o apelido “Carainho” no telefone de Raquel, fez pelo menos 12 ligações pelo aplicativo Whatsapp entre os dias 17 de maio e 1º de junho deste ano. A primeira delas logo depois da publicação das primeiras informações sobre a delação premiada dos executivos da JBS pelo jornal O Globo.

Delação premiada

Segundo Funaro, a intenção do ex-ministro era saber se Funaro também negociava uma delação premiada. Preso desde junho de 2016. O operador financeiro, que trabalhava com a cúpula do PMDB. Mudou recentemente de advogado e confirmou à PF que negocia a delação. Fontes afirmaram à Reuters que a negociação deve ser fechada nas próximas semanas.

Em sua decisão de 11 páginas, o juiz Vallisney disse que “em liberdade, Geddel Vieira Lima, pelas atitudes que vem tomando recentemente. Pode dar continuidade a tentativas de influenciar testemunhas que irão depor na fase de inquérito da operação Cui Bono”.

Além da prisão preventiva, a Justiça acatou os pedidos de quebra de sigilos fiscal, postal, bancário e telemático do ex-ministro. O juiz, no entanto, rejeitou os pedidos para fazer uma busca e apreensão nos endereços residenciais do ex-ministro.

Há cerca de três semanas, quando começaram a correr boatos de que poderia ser preso. O ex-ministro ofereceu à Justiça seus sigilos fiscal e bancário, e a entrega de seu passaporte, em uma tentativa de evitar a prisão.

Defesa

A defesa de Geddel divulgou nota à noite anterior para “registrar sua incompreensão em relação ao absolutamente desnecessário decreto de prisão preventiva”.

– Desde o momento em que o senhor Geddel Vieira Lima se viu injustamente enredado no bojo da ‘Operação Cui Bono’. Colocou-se à disposição das autoridades constituídas – diz o advogado Gamil Föppel na nota, lembrando a entrega de documentos e a disposição de comparecer “a todos os chamados que eventualmente lhe fossem formulados”.

Lamentando que seu cliente jamais tenha sido intimado para depor. O advogado critica a investigação policial por ter uma preocupação “mais voltada às repercussões da investigação para grande imprensa”.  

A defesa ressaltou ainda que no depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República. “Joesley Batista foi enérgico em pontuar que jamais pagou propina (ou qualquer tipo de vantagem indevida) ao senhor Geddel Vieira Lima”.

– Sabedor da sua inocência e confiante na altivez do Poder Judiciário. O senhor Geddel Vieira Lima segue inabalável na reparação do cerceamento às suas liberdades fundamentais – acrescenta a nota.