Ex-assentamentos de Gaza emergem do caos

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Publicado quarta-feira, 14 de setembro de 2005 as 10:54, por: CdB

Forças palestinas assumiram nesta quarta-feira o controle sobre os assentamentos abandonados pelos judeus na Faixa de Gaza, encerrando dois dias de anarquia que se seguiram à desocupação militar israelense do território.

As forças de segurança disseram que as polícias egípcia e palestina contiveram uma onda de pessoas que cruzava a fronteira, o que Israel condenava, por considerar que militantes de Gaza contrários ao processo de paz poderiam aproveitar a desordem para contrabandear armas.

O bloco de assentamentos de Gush Katif, no sul de Gaza, parecia em geral deserto na quarta-feira, a não ser pelas unidades policiais palestinas. Já não há mais as legiões de palestinos festejando, saqueando ou desfilando armados, como ocorreu na segunda e na terça.

Mas a multidão deve voltar ainda nesta quarta-feira a Neve Dekalim, o maior dos assentamentos onde viviam 8.500 judeus, para uma celebração oficial, da qual participará o presidente Mahmoud Abbas.

Abbas e o primeiro-ministro Ahmed Qurie, que viram de perto o tumulto na terça-feira, imploraram aos palestinos para conterem o caos e começarem a reconstrução, como forma de demonstrar ao mundo que eles merecem um Estado.

Inicialmente mostrando-se impassíveis ou mesmo participando da festa, os policiais palestinos começaram na noite de terça-feira a restringir o acesso aos ex-assentamentos e a confiscar bens de saqueadores que haviam “limpado” estufas e sinagogas, as quais também foram incendiadas. 

Também houve confusão na fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza, pois dezenas de milhares de palestinos aproveitaram o fim da vigilância militar israelense e pularam o muro que delimita os territórios, correndo para os mercados e lojas do outro lado.

Mas os policiais egípcios e palestinos começaram a agir na madrugada de quarta-feira, restringindo o acesso a sete postos informais de fronteira, segundo fontes de segurança e testemunhas.

Furiosos, militantes do Hamas fizeram uma explosão que abriu um enorme buraco no muro da fronteira. Rapidamente, porém, os agentes egípcios e palestinos interditaram a área.

– Começamos a nos posicionar em torno da fronteira ontem à noite e agora reforçamos. Até esta noite vamos evitar que qualquer um passe – disse uma importante fonte palestina de segurança, embora em alguns pontos, a barreira fronteiriça continue permeável.

Mohammad Amees, um palestino visto se esgueirando por um pequeno buraco, disse que a cidade egípcia de El Arish, na península do Sinai, está lotada de visitantes de Gaza.

– Todas as lojas estão vazias em El Arish. Não há comida, laticínios, e as lojas de eletrônicos foram limpas – relatou.

Na segunda-feira, Abbas disse que impor a lei e a ordem é vital para as pretensões palestinas de criar um Estado em Gaza e na Cisjordânia, onde permanecem 245 mil colonos judeus.

O maior desafio da Autoridade Palestina em Gaza será controlar as facções militantes e as diversas gangues armadas, muitas das quais ligadas ao seu próprio grupo político, a Fatah. Essas facções não querem se desarmar, mas Abbas pretende cooptá-las com empregos públicos, inclusive nas forças de segurança.

Israel diz que só retoma as negociações de paz, que podem levar a um Estado palestino, depois que Abbas desarmar os militantes.

Tentando agradar a dezenas de milhares de pessoas que tiveram suas casas destruídas por ofensivas israelenses contra redutos militantes em Gaza ou que vivem em campos de refugiados, Abbas prometeu construir 3.000 casas em uma nova cidade a ser erguida sobre as ruínas dos assentamentos.

Israel abandonou no mês passado os seus 21 assentamentos na Faixa de Gaza e 4 dos 120 da Cisjordânia. Foi a primeira vez que Israel entregou assentamentos dos territórios ocupados na guerra de 1967.

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, chegou a Nova York para uma cúpula da ONU. Na quinta-feira, ele es