EUA gastam muito e ganham pouco contra cocaína, dize analistas

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Publicado quinta-feira, 31 de março de 2005 as 19:36, por: CdB

Os Estados Unidos já gastaram 3 bilhões de dólares para combater a produção de cocaína na Colômbia, mas obtiveram poucos avanços no último ano, disseram analistas na quinta-feira, citando dados do governo norte-americano.

A extensão das lavouras de coca, a matéria-prima da cocaína, permaneceu estável em 2004, apesar da campanha de fumigação aérea realizada pelo quarto ano consecutivo, num programa que já absorveu mais de 3 bilhões de dólares cedidos pelos EUA.

Dados de satélites mostraram a existência de 114 mil hectares de lavouras de coca na Colômbia em 2004. Isso é um terço do que havia em 2001, mas o mesmo que em 2003. Há sinais de que os plantadores estão encontrando formas de evitar a ação do veneno jogado de avião e rapidamente replantando as lavouras ilegais.

A Agência de Política Nacional de Controle de Drogas, ligada à Casa Branca, divulgou os dados na Sexta-Feira Santa, o que fez com que eles passassem quase despercebidos.

“Não acho que isso fosse algo que eles quisessem especialmente propagandear. É uma grande frustração do ponto de vista deles”, disse Michael Shifter, da entidade Diálogo Interamericano, de Washington.

Esses dados corroboram declarações de analistas segundo os quais a exportação de cocaína para os EUA caiu muito pouco. A Colômbia é o maior produtor mundial da droga, da qual os norte-americanos são os maiores consumidores.

Os especialistas dizem que a capacidade produtiva caiu 7 por cento no ano passado devido à maior proporção de plantas jovens e imaturas nas lavouras, mas que, se a extensão cultivada não diminuir, a produção pode voltar a crescer quando essas plantas atingirem a maturidade.

“Deve haver uma urgente revisão da efetividade da aspersão (de veneno) como principal ferramenta para o combate à produção da droga na Colômbia”, disse Alfredo Rangel, ex-assessor do presidente colombiano, Álvaro Uribe, e hoje diretor de uma consultoria de segurança em Bogotá. “Deve haver uma análise da relação custo-benefício deste enorme esforço, que já custou bilhões de dólares”, afirmou.

Um assessor do “czar” antidrogas da Casa Branca, John Walters, disse que houve progressos, embora se trate de uma luta contra quadrilhas muito ricas. “Continuamos na direção correta. A direção correta é particularmente medida pelo que mais importa: qual é a capacidade produtiva agora, quanta cocaína pode ser produzida. E estamos diminuindo isso (…) há três anos consecutivos”, afirmou David Murray.

Os dados mostraram também uma redução de 52 por cento nas lavouras de papoula, matéria-prima do ópio e da heroína — um “negócio auxiliar” dos cartéis, que tiram a maior parte do seu lucro da cocaína.

“Desde 2001, ganhamos todos os rounds. Ainda é uma luta, e todos gostariam de ver um nocaute”, disse Murray.

Os cartéis colombianos se associaram aos paramilitares de direita e às guerrilhas de esquerda que travam uma guerra civil de quatro décadas na Colômbia. A mesma cocaína pode se deslocar por áreas rivais, ajudando a comprar munição para ambos os lados.

Markus Schultze-Kraft, da entidade International Crisis Group, disse que a fumigação das lavouras deveria ser complementada por formas de ajudar os agricultores a adotarem cultivos legais.

“Não é uma tarefa fácil estimular e ampliar alternativas e o desenvolvimento rural na Colômbia, mas parece ser a única forma para sair desse impasse”, disse ele, acrescentando que a fumigação é “uma caça às plantações de cocaína pelo país que não pode ser vencida”.

Mas não há perspectivas de mudanças imediatas na política norte-americana. Uribe é o principal aliado de Washington na América Latina, e seu sucesso contra os rebeldes marxistas é um dos poucos resultados positivos da diplomacia dos EUA na região, segundo Shifter.

“A boa notícia para o governo é não só que (os dados) apareceram na Sexta-Feira Santa, mas que não há absolutamente nenhuma discussão sobre a política contra drogas”, afirmou Shifter.