Eu, Robô tem muita ação e com pouca inteligência

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Publicado sábado, 7 de agosto de 2004 as 18:17, por: CdB

Já se passaram 36 anos desde “2001 — Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick. Mesmo assim, “Eu, Robô” baseia-se na coleção seminal de ficção científica de Isaac Asimov para fazer uma história sobre robôs e um computador inteligente (como o HAL de “2001”) como se fosse território virgem.

O roteiro sobre uma revolta de máquinas inteligentes num mundo futuro é algo que já está velho, a não ser que apresente uma perspectiva nova. Quando se incluem personagens e histórias altamente previsíveis, o resultado parece gritar “isso tudo já foi feito!”

A presença de Will Smith e o misto de ação com elementos digitais devem garantir uma bilheteria inicial razoável ao filme, mas este vai decepcionar os fãs da ficção científica, acostumados a que os vendedores de fantasia de Hollywood lhes ofereçam muito mais.

Os robôs que aparecem no filme, estréia da sexta-feira, são figuras metálicas em tons de preto, branco e cinza, com braços e pernas finos e rostos e peitos translúcidos. E, como muitas das cenas são rodadas com iluminação fraca, há momentos em que o filme lembra um thriller de ficção científica dos anos 1950.

Não deixa de ser apropriado, já que “Eu, Robô” parece um filme B, cheio de ação e com pouca inteligência. Na categoria em que operam os filmes mais recentes de ficção científica e fantasia — ou seja, as séries “Homem Aranha”, “Harry Potter” e “Exterminador do Futuro” –, “Eu, Robô” deixa muito a desejar.

A direção é de Alex Proyas, e os roteiristas são Jeff Vintar e Akiva Goldsman.

SEM ROMANCE

Apenas um homem no mundo se dá conta do perigo que os robôs representam para a humanidade, e todo o mundo acha que ele é maluco paranóico.

Mas será que os policiais, cientistas e políticos não teriam assistido aos filmes anteriores? Eles já não saberiam que, quando uma grande empresa produtora de robôs se abriga num arranha-céus frio e fechado, o que se esconde lá dentro só pode ser do mal?

Parece que não. Chicago em 2035 é uma cidade repleta de robôs supostamente treinados para serem empregados dóceis e programados para jamais ferir um humano.

Até que um deles, um modelo NS-5 conhecido como Sonny, se torna o principal suspeito na morte do eminente cientista que o criou, Dr. Alfred Lanning (James Cromwell).

Apesar disso, o detetive policial Del Spooner (Will Smith) não consegue convencer ninguém — nem mesmo a psiquiatra de robôs Dr. Susan Calvin (Bridget Moynahan) — a interromper a produção de NS-5s. Ninguém quer considerar Sonny um suspeito.

Em pouco tempo, centenas de robôs NS-5 agressivos perseguem e atacam Smith quando ele passa de carro por um túnel, saltando de caminhões, destruindo seu carro e o enfrentando em combate um a um. Entretanto — surpresa! — ninguém na cidade vê nada! As pessoas atribuem o incidente à instabilidade mental de Spooner.

O problema de “Eu, Robô” é que os mundos dos robôs e dos humanos não chegam a se fundir da maneira convincente. As lutas entre homens e máquinas têm um ar fabricado, e, excetuando Sonny, nenhum dos outros robôs desenvolve muita personalidade.

Will Smith carrega o filme todo sobre seus ombros largos — e, em muitos momentos, nus –, o que é uma carga pesada, já que quase todo o resto do filme atua como se fosse autômato.

Bridget Moynahan imbui o papel da tecno-cientista de uma beleza rígida, mas os responsáveis pelo filme não permitiram o surgimento de faíscas românticas entre os personagens principais, um negro e uma branca. Isso não é futurista, é antiquado.