O Brasil possui 47,4 milhões de habitantes que não ganham o suficiente para comer, parcela que passou de 26,23 % da população em 2002 para 27,26 % cento em 2003, o primeiro ano do governo Lula. O cálculo inédito é resultado de uma pesquisa do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS-FGV), apresentada nesta quinta-feira, em São Paulo.
“Esse resultado é reflexo da alta inflacionária registrada no fim de 2002, somada à estagnação econômica e ao aumento do desemprego. Isso tudo contextualizado num período de mudanças no cenário político nacional”, explicou à Reuters o economista-chefe do CPS-FGV, Marcelo Neri.
Segundo a avaliação do especialista, no entanto, com a mudança desse quadro já registrada em 2004, as perspectivas são positivas.
– Podemos esperar que, a partir dos dados deste ano, a taxa recue para cerca de 25 % da população e a desigualdade comece a ceder – previu.
Essa estimativa para 2004 considera que a economia brasileira apresente crescimento médio de 4,5 % , enquanto o nível de desigualdade mantenha trajetória de queda de 0,1 ponto por ano, como ocorreu em 2002 e 2003.
– Os fortes ajustes realizados no decorrer no ano passado nos fazem acreditar na possibilidade de continuidade da redução da desigualdade para os próximos anos – afirmou Neri.
O estudo da FGV avaliou pela primeira vez os dados abertos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para calcular a quantidade de brasileiros em situação de miséria.
Essa parcela da população não tem dinheiro sequer para comprar uma cesta básica de alimentos que garanta o consumo diário de 2.888 calorias, segundo o nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
De acordo com o cálculo do CPS-FGV, enquanto em 2002 a quantia mínima necessária para suprir as necessidades alimentares dos brasileiros era de 93 reais ao mês por habitante, no ano passado esse valor subiu para 108 reais, descontada a inflação do período.
Na comparação dos dados entre 1992 e 2003, contudo, há redução significativa da miséria nacional, com queda de 35,87 % para 27,26 %.
Segundo o estudo, apesar de a desigualdade social brasileira estar entre as três maiores do mundo, há possibilidade de a pobreza ser reduzida por meio da transferência de renda, já que o crescimento econômico permite promover a divisão de ganhos e não de perdas, como ocorre nos períodos de crise.