Estudante baleada faz apelo a favor do desarmamento

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Publicado segunda-feira, 3 de maio de 2004 as 00:19, por: CdB

Esta semana faz um ano que a estudante de enfermagem Luciana Novaes levou um tiro dentro da Universidade Estácio de Sá. Com a ajuda de um equipamento instalado na traquéia, ela voltou a falar e, em entrevista ao ‘Fantástico’, disseque se lembra muito pouco do dia em que foi baleada:

– Esse dia eu não lembro de nada. Não sei se isso é bom ou ruim. A única coisa que eu lembro é que, no ônibus, quando estava indo para a faculdade, eu levantei duas vezes porque não estava com vontade de ir à aula. Só que, como eu tinha prova e aula de anatomia, eu resolvi ir. Chegando lá, eu não lembro de mais nada. Só lembro que comprei um lanche.

A mãe conta que tinha falado com a filha momentos antes:

– Eu tinha acabado de falar com ela, tinha uns 8 minutos que eu tinha ligado para ela. Então, ela estava terminando a aula e falou para mim: mãe, eu estou descendo, vou tomar um lanche… – conta Helena de Novaes.

Luciana ficou tetraplégica. Não tem movimentos do pescoço para baixo e respira com a ajuda de aparelhos. Atualmente ela encara com firmeza o processo de reabilitação.

– Durante este um ano que estou aqui, eles me colocaram numa outra maca e me levaram numa varanda que tem aqui na UTI para eu poder ver o céu, né? Foi uma emoção muito grande. Isso aconteceu umas quatro vezes – disse. 

A equipe médica se surpreende com a disposição da paciente:

– Encanta muito. Ela raramente está deprimida ou desanimada. Isso dá uma força muito grande para todos nós – disse o médico Marco Aurélio Fernandes.

Há pouco tempo, Luciana ganhou um presente que mudou sua rotina para melhor: um computador especialmente adaptado para ela se comunicar com os amigos. O mouse é acionado pelos movimentos dos olhos.

– Puxa, é uma coisa surpreendente, porque através disso eu posso ler as notícias, posso ver os e-mails.

Até hoje, a polícia não sabe quem foi o autor do tiro que mudou para sempre a vida de Luciana e de sua família. Recentemente, ela disse que queria dar uma entrevista com um objetivo principal:

– Que lutem pelo desarmamento. Todas as pessoas que puderem entrar nessa campanha pedindo contra o desarmamento porque chega de violência. É muito grande a violência – falou. 

E também faz um pedido:

– O meu sonho é ver o mar. E através disso, desse sonho, eu precisava de uma cadeira que a gente ainda não conseguiu.

A cadeira que Luciana precisa é a mesma usada pelo ator americano Christopher Reeve, que interpretava o Super-Homem. O caso do ator é muito parecido com o dela. A cadeira tem sustentação para o pescoço e um respirador artificial. Custa cerca de R$ 60 mil.

– O sonho dela é a cadeira. Se eu pudesse me transformar numa cadeira, eu me transformaria – disse José Almir de Novaes, pai da estudante.

Já o sonho dos pais de Luciana é levar a filha de volta para casa. Mas para ter a estudante em casa, Helena e José Almir precisariam ter pelo menos R$ 160 mil para montar uma unidade semi-intensiva no quarto com dois respiradores.

– Eu vou te confessar, eu não peço a Deus para voltar a andar não, sabe? Eu peço a Deus, a única coisa assimque eu peço mais é para sair desse respirador porque incomoda um pouco. Incomoda um pouco, não, incomoda bastante – conta a estudante.