Espanha invade espaço aéreo do Marrocos

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Publicado domingo, 8 de fevereiro de 2004 as 08:47, por: CdB

O Governo do Marrocos protestou formalmente ante as autoridades espanholas pela violação de seu espaço aéreo em 5 de fevereiro por parte de dois aviões militares de treinamento, informaram fontes oficiais.

O Governo de Rabat convocou o emabajador espanhol no Marrocos, Fernando Arias-Salgado, para expressar-lhe seu protesto pelo fato de aviões espanhóis terem sobrevoado a província de Nador, no norte do país, perto da cidade espanhola de Melilha.

Horas após o protesto, o Escritório de Informação Diplomática (OID), do Ministério de Exteriores da Espanha, reconheceu que se tratava de um sobrevoo acidental e assinalou que “lamentava” o incidente.

Segundo a OID, dois aviões espanhóis de treino C-101, que não levavam “nenhum tipo de armamento, nem câmeras, nem outros sistemas de observação” se dirigiam a Melilha, cidade autônoma espanhola no norte da África, no último dia 5, mas se desviaram de sua rota devido ao mau tempo.

A OID ressaltou que “a visibilidade na zona era muito pouca (5 quilômetros) e o teto de nuvens muito baixo (500 metros)”.

O Governo espanhol, segundo o comunicado, repassou essa informação “pela via diplomática às autoridades marroquinas”.

Depois do protesto marroquino, a ministra espanhola Ana Palacio anunciou em Toledo (ao sul de Madri) que exigiria toda a informação sobre os fatos denunciados por Rabat e expressou seu desejo em que o incidente se resolva com “a franqueza e amizade que presidem sempre as relações bilaterais”.

Este é o primeiro incidente entre ambos os países depois da cúpula bilateral em Marraquech nos dias 8 e 9 de dezembro, sob a presidência dos dois chefes de Governo, Dris Jetu e José María Aznar.

Nesta cúpula, que não era realizada desde 1999, se tentou normalizar as relações bilaterais após três anos de desencontros entre os dois países vizinhos.

A crise diplomática entre Marrocos e Espanha alcançou seu ponto máximo em 11 de julho de 2002 quando vários policiais marroquinos ocuparam a ilhota de Perejil, no norte da África, que permanecia há décadas desabitada.

Em 16 desse mesmo mês, o Governo espanhol considerou esgotada a negociação diplomática para que a ilhota desabitada retornasse ao “status quo” anterior, chamou a consultas o embaixador em Rabat e decidiu executar a operação de retirada dos seis militares marroquinos instalados na ilhota.

No dia seguinte, 17 de julho, um comando de Operações Especiais do Exército de Terra foi à ilhota com helicópteros e deteve os militares marroquinos, que foram entregues às autoridades do Marrocos.

Em 20 de julho, Espanha e Marrocos alcançaram um acordo que supunha a volta ao “status quo” anterior ao mês de julho -sem a presença permanente de nenhuma das partes- e os 75 militares espanhóis destacados em Perejil abandonaram a ilhota.

As relações entre os dois países atravessavam momentos delicados desde outubro de 2001, quando Rabat chamou a consultas seu embaixador em Madri, Abdessalam al Baraka, devido a “certas atitudes e posições espanholas que concernem ao Marrocos”.

Os embaixadores dos dois países se reincorporaram a seus postos respectivos em 3 de fevereiro de 2003, depois de uma decisão em tal sentido adotada após uma visita que dias antes tinha realizado ao Marrocos a ministra Ana Palacio.